João Ubaldo vira 'celebridade' após Prêmio Camões

Amigos e colegas cumprimentaram o escritor pelo reconhecimento internacional

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Por Daniele Carvalho
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No dia seguinte à conquista do Prêmio Camões 2008, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro manteve o humor e o senso crítico que o tornaram internacionalmente conhecido. De seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio, ele se deliciava com a quantidade de telefonemas e e-mails recebidos de amigos e escritores desde a tarde de sábado "Estou me sentindo uma celebridade. Pareço até um BBB", brincou ele, referindo-se ao reality show.   Oitavo brasileiro a receber a homenagem, criada pelos governos de Portugal e Brasil, em 1988, Ubaldo foi escolhido pelo conjunto de sua obra, que contribui para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Apesar de se dizer feliz e satisfeito com a premiação, ele lamentou o pouco destaque que o assunto ganha no País."Talvez se eu me chamasse John Brock e ganhasse um prêmio nos Estados Unidos, seria mais conhecido e teria mais espaço no noticiário."   Dizendo-se de mau humor - situação difícil de ser identificada diante de seus comentários hilariantes - , João Ubaldo avalia que o pouco interesse do brasileiro pela leitura tem como causa a forma com que a literatura é ensinada nas escolas. Segundo ele, os alunos, muitas vezes, são obrigados a ler textos para depois responder a questões confusas e mal elaboradas. "Os livros didáticos de literatura estão repletos disto. Eu teria dificuldade de responder a perguntas feitas até sobre textos meus", disse.   O reconhecimento internacional obtido em um país em que poucos buscam a companhia de um livro foi lembrado por Lygia Fagundes Telles, última brasileira a receber o Prêmio Camões (2005). "É um afago à alma. É árduo o ofício de um escritor em um país como o Brasil, que tem tantos analfabetos. O prêmio me trouxe muitas alegrias. João Ubaldo merecia este reconhecimento", afirmou a escritora.   A utilização de elementos técnicos e temáticas populares foi apontada pelo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antônio Carlos Secchin, como a principal característica da literatura de Ubaldo. "Ele é o erudito de bermudas. Ele não é um autor ingênuo e é sofisticado", resumiu. Para ele, as obras "Viva o Povo Brasileiro" e "Sargento Getúlio" são exemplos claros desta dualidade.   "Viva o Povo Brasileiro é uma obra fundamental para a literatura nacional. O livro sintetiza a alma de nosso povo", acrescenta o também imortal Cícero Sandroni, que descreve João Ubaldo como uma pessoa de relacionamento ameno e agradável."Sentimos falta dele na ABL, mas sabemos que ele produz muito. É o tipo de escritor que mergulha e se dedica totalmente quando está escrevendo um romance. Seu trabalho é admirável", comentou Sandroni.   A consistência da obra de João Ubaldo também é lembrada pelo escritor Silvano Santiago, que considera Ubaldo um dos nomes mais importantes da literatura brasileira na segunda metade do século XX. "Ele faz parte daquela geração de baianos talentosos como Glauber Rocha. No exterior, ele é tido como o sucessor de Jorge Amado. Boa parte de seus livros é publicada, inclusive, pelas mesmas editoras dos livros de Jorge", contou ele, acrescentando que a premiação trará ainda mais destaque à obra de Ubaldo.   Para o poeta e roteirista Geraldo Carneiro, que adaptou "O Sorriso do Lagarto" para uma minissérie de televisão, Ubaldo consegue dialogar com os mais variados públicos. Os dois dividem atualmente o texto do seriado "Faça a sua História", apresentado aos domingos pela TV Globo."Temos um relacionamento ótimo. Adaptar os livros de João Ubaldo para a televisão não é uma tarefa difícil. Seus personagens são muito ricos e seu texto é repleto de ação", elogiou Carneiro.

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