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'Imageria' recupera as origens dos quadrinhos

Livro de Rogério de Campos volta 500 anos no tempo para explorar as primeiras HQs e preencher uma lacuna

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Seria como se Dom Quixote nunca tivesse sido publicado por aqui: é assim que o editor e autor Rogério de Campos define a ausência que existe na difusão de obras fundadoras dos quadrinhos. Sua contribuição para a posteridade é Imageria: O Nascimento das Histórias em Quadrinhos, publicado pela Veneta e já nas livrarias, em edição de luxo.

“Os quadrinhos viveram sempre muito o presente e o futuro, não é uma linguagem que se vangloria do passado”, diz Campos, na sede da editora, da qual é o proprietário, no centro de São Paulo. “Pelo menos até agora.”

Editor, Rogério de Campos publicou alguns dos principais quadrinistas no País Foto: Sergio Castro|Estadão

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Ele relaciona as HQs também com o cinema, e o papel fundamental – e praticamente deixado de lado – que os quadrinhos tiveram na própria criação da sétima arte. L’Arrouseur Arrosé, o filme de 45 segundos, envolvendo um regador e uma mangueira, que Louis Lumière produziu em 1895, foi inspirada em HQs publicadas desde 10 anos antes. “É incrível como os historiadores não trouxeram isso à tona”, relata. Este é considerado o primeiro filme de ficção do cinema.

O livro também recupera, por exemplo, Histoire de M. Jabot, uma série de desenhos impressos e publicados na década de 1830 em Genebra pelo suíço Rodolphe Töpffer. “Não são histórias para arqueólogos. Leia as histórias do Töpffer, são muito engraçadas”, relata. “Certamente ele é um dos grandes quadrinistas da história até hoje. Por que ele não é publicado? Isso me deixa perplexo.”

Campos apresenta também a discussão sobre qual seria de fato a primeira HQ publicada na história – segundo os americanos, é Yellow Kid, de 1896, de Richard F. Outcault.

Mas o fato é que o livro de capa dura traz mais de 350 páginas, entre textos do autor e histórias em quadrinhos produzidas e veiculadas desde a segunda metade do século 15, há 500 anos, até o início do século 20, momento em que Campos identifica uma interrupção da “revolução”. Nessa época, segundo o pesquisador Brian Walker (citado no livro), “o mercado dos quadrinhos adotou um rígido código de autocensura”.

Apesar de ser um entusiasta da atual produção dos quadrinhos brasileiros e acreditar que vivemos um momento de “libertação”, Campos acredita que a indústria ainda não se recuperou desse choque, ou seja, ainda evita riscos maiores e ousadias. “Não estou reclamando do politicamente correto, mas a indústria não quer chocar ninguém, e isso passa para toda a criação artística”, afirma, relacionando o movimento a certo obscurantismo religioso presente no mundo todo. Recentemente, quadrinhos eróticos de Paulo Leminski e Alice Ruiz, republicados pela Veneta, enfrentaram dificuldades no mercado por conta de distribuidoras e livrarias. A censura da “grana”, diz, é mais efetiva do que a censura oficial.

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De todo jeito, ele está realmente entusiasmado com a produção nacional. “Não é nenhum favor publicar os quadrinhos brasileiros hoje em dia.”

IMAGERIA: O NASCIMENTO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOSAutor: Rogério de CamposEditora: Veneta (360 págs., R$ 149,90)

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