É com bom humor que o escritor Ignácio de Loyola Brandão conta como decidiu se candidatar à Academia Brasileira de Letras (ABL). “Nunca pensei em fazer parte até a noite que pensei”, brinca. A declaração foi feita durante entrevista à TV Estadão nesta quarta-feira, 6, quando o escritor também recebeu uma homenagem surpresa e ao vivo da equipe do Caderno 2, onde assina sua coluna há 26 anos.
Eleito por unanimidade, o mais recente imortal da ABL conta que o sonho começou quando recebeu das mãos de Eduardo Portela, em 2016, não só o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, mas também o incentivo de que, caso fosse candidato, já teria um voto.
“Pensei: por que não?”, relembra. Aos 83 anos e com 45 livros publicados no currículo, ele revela ter ficado receoso no início do processo, mas que foi encontrando pontos de apoio entre ele e os membros da academia para justificar o voto de cada um. “Minha geração sempre quis ser transgressora. Deixando a academia de lado”, afirma. Modesto, ainda que colecione obras e prêmios, o escritor temia ter votos contrários. “Mas eu sou catastrófico”, justifica, ao dizer que preferia pensar assim para não se iludir.
Também vencedor do Prêmio Juca Pato 2019, como o intelectual do ano, Brandão tomou posse na Academia no último dia 14 de março deste ano, quando substituiu o sociólogo Hélio Jaguaribe, que morreu em 2018. Agora ele assume a cadeira 11 da academia, cujo patrono é Fagundes Varela e que teve como fundador Lucio de Mendonça.
Além da atual agenda que já inclui dezenas de viagens pelo País - só nas próximas semanas, Brandão tem passagem confirmada em Campinas, São Carlos e Manaus -, ele conta que após entrar para a categoria dos escritores imortais, ao menos uma vez por mês precisa estar presente em uma das sessões na sede da Academia, no Rio de Janeiro.
Ignácio de Loyola Brandão é autor de obras emblemáticas como Zero (1975) e Não Verás País Nenhum (1981) e cronista do Estado desde 1993. Os textos que Loyola Brandão publicou no jornal deram origem a alguns de seus livros, entre os quais Se For Para Chorar, Que Seja de Alegria (2016) e O Mel de Ocara - Ler, Viajar, Comer (2015). Seu romance mais recente, de 2018, é o distópico Desta Terra Nada Vai Sobrar, a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela.