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Palco, plateia e coxia

Caverna.club: 'Gradiva' e o catatau

A cabeça do poeta é a esperança nacional de um povo decifrar o momento e sair da lama

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Por João Wady Cury
Atualização:

Imersa em ideias, na papelada que a circunda, no texto diariamente tecido, a cabeça do poeta é a esperança nacional de um povo decifrar o momento e sair da lama em que chafurda todos os dias há três anos, sob a pauta do cinismo e de malfeitos. Ainda que não haja reconhecimento imediato ou futuro, seu nome é poeta, e muitas vezes é o que basta. Nem que a morte o abalroe em um abril soturno, o caminho perseguido continua a ser trilhado. É o que tem feito o poeta e ensaísta Claudio Willer, 80.

O poeta Claudio Willer Foto: Evelson de Freitas/Estadão

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O cotidiano, desde o início da pandemia, tem se resumido a trabalho. Afora a perda de sua companheira, a artista visual Maninha Cavalcante, há quatro meses, Willer está mergulhado em uma série de atividades de encher os olhos. Iniciou uma nova tradução do texto de Wilhelm Jensen, Gradiva, obra matricial tanto para Freud como para os surrealistas no início do século passado. Escrita em 1900 sobre a figura mitológica da doce e meiga Gradiva, “aquela que avança”, o texto de Jensen acabou chamando a atenção de Jung, que o mostrou a Freud — O Delírio e os Sonhos na Gradiva de Jensen acabou sendo escrito em 1906 e lançado no ano seguinte. Para os surrealistas, Gradiva ainda é pura inspiração. Não à toa, André Breton e Jacqueline Lamba, sua mulher, mesmo na pindaíba, inauguraram uma pequena galeria na Rue de Seine, em Paris, com o nome da moça. Quem desenhou a porta de vidro foi Marcel Duchamp (amzn.to/2VZi8Rk). A Gradiva traduzida por Willer deve ser publicada no início de 2022 pela 100/Cabeças, editora lançada ano passado, que se dedica aos surrealistas. 

Catatau de mil páginas

Ainda que o chame de disfuncional, é a pura verdade. Willer prepara um catatau. Está reunindo seus escritos, maioria formada por ensaios publicados em coletâneas, periódicos e no meio digital. O novo livro sairá pela Ibis libris, do Rio de Janeiro. Mantém ainda uma rotina de entrevistas longas na internet e cursos sobre poetas, o Surrealismo, a Geração Beat, suas especialidades e identificações. Em setembro, dará um novo curso sobre “Poetas Rebeldes, Místicos e Gnósticos”. “Vou confrontar o Evangelho da Verdade com Baudelaire. Corpus Hermeticum com Whitman. Breton com Biblioteca de Nague Hammadi. William Blake com tudo. Explorar a riqueza do gnosticismo e da poesia, claro”, conta o poeta que não para (claudiowiller.wordpress.com). É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DO INFANTIL ‘ZIIIM’ E DE ‘ENQUANTO ELES CHORAM, EU VENDO LENÇOS

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