Gênero policial brasileiro vai de paródia de detetive a discussão de temas atuais do País

Segundo Otto Maria Carpeaux, o paulistano Luiz Lopes Coelho foi o primeiro grande contista policial brasileiro

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Como nos tempos da Atlântida, a cara do gênero policial no Brasil já foi uma paródia de detetive com perfil de Amigo da Onça – o Ed Mort, de Luis Fernando Verissimo, um gênio do humor fino e inteligente. Pouca gente se lembra do paulistano Luiz Lopes Coelho com seu detetive, o Dr. Leite, mas Otto Maria Carpeaux sustentava que o autor de A Morte no Envelope e O Homem Que Matava Quadros foi o primeiro grande contista policial brasileiro. A maioria da crítica, por desconhecimento ou o que, prefere apontar Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza como pais do policial brasileiro. Méritos à parte, não são.

Um dos maiores romances da literatura brasileira carrega o enigma, senão o mistério – Capitu, a dos olhos de ressaca, traiu Bentinho, em Dom Casmurro? O gênero já foi privilégio de autores infantojuvenis. Cardoso Gomes, com o investigador Douglas Medeiros, e Pedro Bandeira, com Os Karas e O Fantástico Mistério de Feiurinha.

Luiz Lopes Coelho, escritor, autografa exemplares de seu ultimo livro, 'O Homem que Matava Quadros', editado pela Civilização Brasileira, em 9 de novembro de 1961 Foto: Acervo Estadão

PUBLICIDADE

No cinema, se houve um gênero que se transformou em espelho da identidade nacional, foi a chanchada carnavalesca, com sua estética da paródia. O filme de cangaço, o “nordestern”, foi o western brasileiro. Houve tentativas de policiais: Quem Matou Anabela?, com direito a investigação do Comissário Ramos, o lendário Procópio Ferreira.

São considerados clássicos Mulheres e Milhões, com a revelação final, e O Assalto ao Trem Pagador, com a oposição entre morro (Tião Medonho) e asfalto (Grilo), em 1961 e 62. No final da década, com O Bandido da Luz Vermelha, o policial brasileiro forjou nova identidade e tornou-se marginal. Na literatura, se impuseram Luiz Alfredo Garcia-Roza e o delegado Espinoza, Rubem Fonseca e o advogado Mandrake, Tony Bellotto e o investigador Bellini. Todos ganharam versões para cinema e TV. 

Com formação psicanalítica, Garcia-Roza detesta os finais fechados. Deixa o leitor aguçado, para forçá-lo a refletir sobre o que leu. Bellotto revela olhar acurado sobre o submundo em Bellini e a Esfinge e sua mulher, Malu Mader, é deslumbrante como a prostituta Fátima, na boa adaptação por Roberto Santucci.

Quanto a Rubem Fonseca, seus melhores escritos não pertencem ao gênero, por mais que a gente possa se divertir com Mandrake (e Marcos Palmeira, que faz o papel na série de José Henrique Fonseca, filho do escritor).

Patricia Melo, uma rara mulher no gênero, atuante em literatura, teatro, TV e cinema, começou refém do estilo de Rubem Fonseca. Em 2019, trouxe o feminicídio para o debate, com Mulheres Empilhadas. Pode não ser grande literatura, mas tem fôlego. 

Publicidade