Festival mineiro debate a censura e a criação

Fórum das Letras recebe nomes como Lira Neto, Frei Betto e Lídia Jorge e anuncia a primeira Casa Brasileira de Refúgio

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Por Maria Fernanda Rodrigues
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A edição do Fórum das Letras, que será aberta hoje à noite em Ouro Preto, foi idealizada para debater o tema Escritas em Transe - sendo o transe, nas palavras da curadora Guiomar de Grammont, "a eclosão de forças do inconsciente, o jorro da experiência e da memória em forma de escrita". Um estado de aflição que extrapola os limites da ficção. Ao longo de 2014, o País lembrou os 50 anos do golpe militar e os 30 das Diretas Já, fatos que só agora, distantes no tempo, estão sendo resgatados e narrados por alguns de seus protagonistas. As relações entre política e literatura, entre escrever e calar e, sobretudo, o combate à censura estarão em pauta no evento. "O principal tema é a liberdade de expressão, a supressão da censura e de todas as formas de silenciamento da palavra que possam oprimir os seres humanos em geral", completa a curadora. A contar pelo engajamento do brasileiro com a recente eleição para presidente e também a repercussão que as mesas mais políticas tiveram na última edição da Festa Literária Internacional de Paraty, podemos esperar debates acalorados.

O escritor Lira Neto é um dos destaques do Fórum das Letras, de Ouro Preto Foto: Sergio Castro/ Estadão

Até domingo, escritores, jornalistas e pesquisadores se revezam no palco do Cine Vila Rica e em outros espaços da cidade, que abrigam os eventos paralelos, como o Ciclo de Jornalismo e Literatura, o Fórum das Letrinhas e os novatos Fórum das Letras Jurídicas e #DasLetras, para os adolescentes. Entre os convidados estão Lira Neto, Frei Betto, Mário Magalhães, Fernando Morais, Audálio Dantas, Paulo Markun, Leonardo Sakamoto, Lídia Jorge, Ferréz, Santiago Nazarian, Ana Paula Maia e Raphael Montes. A cantora e escritora Adriana Calcanhotto faz um pequeno show depois da abertura oficial e, na sequência, participa de uma conversa com a curadora. A programação é gratuita. Também na abertura, será assinada uma carta de intenção para a criação da primeira Casa Brasileira de Refúgio (Cabra), a ser inaugurada em 2015 na cidade histórica mineira. "Ouro Preto é uma cidade em que a literatura e a política estiveram sempre em cena. A Inconfidência foi um movimento idealizado por poetas, celebrado simbolicamente a cada ano. Além disso, a paisagem histórica e ambiental da cidade a tornam ambiente ideal para um escritor. Vários passaram por ela e, dessas vivências, resultaram alguns dos mais impressionantes textos da literatura brasileira", diz Guiomar de Grammont. De Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Silva Alvarenga, no século 18, a Elizabeth Bishop e Julio Cortázar, no século 20. Escritores perseguidos e censurados em seus países de origem já contam com 40 casas, como a que será criada em Ouro Preto, pela Universidade Federal de Ouro Preto em parceria com a International Cities of Refuge Network (ICORN), ao redor do mundo - a maioria fica na Europa. A inspiração para o projeto brasileiro vem da Cidade do México, e o poeta iraniano, que está vivendo lá e traduzindo poetas de latinos, participa da assinatura da carta. Depois, na quinta-feira, ele estará ao lado de Frei Betto, Julia Oliveira, hondurenha também refugiada, e da mexicana Maria Tereza Atrián, na mesa Exílio ou Silêncio? Ainda na quinta-feira, os jornalistas Fernando Morais, Geneton Moraes Neto e Paulo Markun participam da mesa O Brado Retumbante: A Reconquista da Democracia no Brasil. O assunto é tema de projeto de Markun e dos dois livros que ele está lança pela Benvirá: Na Lei ou na Marra - 1964-1968 e Farol Alto Sobre as Diretas - 1969-1984. Na sexta, destaque para o encontro de Ivo Herzog, Audálio Dantas, Paulo Markun e João Batista de Andrade, que falam sobre Vladimir Herzog. Entre as mesas mais literárias está O Narrador Como Personagem, com a portuguesa Lídia Jorge, autora de Combateremos a Sombra (Leya), livro que se passa na Lisboa da virada do século 21 e que trata também de silêncio, censura e perseguição - e que por isso ela poderia ter sido incluída nas mesas mais políticas -, o brasileiro José Castello e o suíço Patrick Straumman.

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