Um dicionário ilustrado com o significado dos sentimentos. Assim é Emocionário, livro dos espanhóis Cristina Núñez Pereira e Rafael Valcárcel, que faz sucessos nas escolas e casas com crianças. Cristina respondeu a algumas perguntas por e-mail sobre sua obra que já vendeu 30 mil exemplares no Brasil e que pode ajudar famílias que ainda estão em isolamento e tendo de lidar com os efeitos da pandemia na saúde mental das crianças.
O que a motivou a escrever esse livro?
Escrevemos o Emocionário porque era o livro que estávamos procurando nas livrarias para ajudar uma criança a compreender e expressar seus sentimentos e emoções. Embora encontrássemos belas propostas de contos ou livros específicos dedicados a uma emoção, fazia falta um dicionário direcionado às crianças menores. E como não o encontramos, decidimos criá-lo. É verdade que depois o livro funciona tanto com crianças como com adultos, e é isso que o torna maravilhoso: tudo o que acontece quando o livro é fechado, todas as conversas que surgem no calor da sua leitura.
Nunca foi tão importante falar sobre os sentimentos com as crianças quanto neste momento de isolamento. Está tudo à flor da pele e as elas estão tendo de lidar com sensações desconhecidas ou que não tinha maior repercussão interna quando elas levavam uma vida normal - de escola, passeio, visita à família... Você concorda? Como aproximar essas questões das crianças que, de uma forma geral, foram afetadas pela pandemia?
Claro, nós, como adultos, estamos lidando com uma situação desconhecida, cheia de incertezas e que pode nos deixar inquietos e gerar sentimentos bastante inquietantes. No entanto, no caso das crianças, temos de perceber que muitas, muitas coisas no mundo são novas para elas. Para algumas crianças, a pandemia pode ter parecido tão novidade quanto ir à escola pela primeira vez ou ir para o acampamento pela primeira vez sem a família, etc.
O importante é falar, como vocês bem destacaram, agora e sempre. É por isso que é importante usar um vocabulário rico sobre emoções e sentimentos para poder expressar todas as nuances do que sentimos. E acreditamos que também é muito importante “normalizar” o hábito de falar de sentimentos, torná-lo habitual, aprender a expressá-los de forma gentil e respeitosa e torná-los parte constante da comunicação, tanto com a família como na escola ou com os amigos.
Os adultos devem dar o exemplo e conversar com elas, confiar em sua capacidade de compreensão e entender que elas sentem com a mesma intensidade e a mesma riqueza de nuances que nós. Podemos partilhar a nossa incerteza (sem sobrecarregá-las), fomentando assim o seu sentimento de pertencimento, acalmando-as face à tensão que possam estar "sentindo" no ambiente e pode até ser terapêutico para nós, pois ao partilhar a nossa incerteza, a nossa tensão ou a nossa preocupação também nos sentiremos consolados.
Depois de mergulhar em todos esses sentimentos para escrever o livro, o que diria aos pais neste momento, depois de tudo o que presenciamos e vivemos?
Que não deixem de falar com seus filhos e filhas, que compartilhem as suas emoções nos dois sentidos: ouvindo atentamente e ajudando os pequenos a exprimir o que sentem e ousando partilhar os próprios sentimentos para criar um clima de diálogo, cordialidade e confiança em casa. O lar deveria ser o nosso maior refúgio, tanto para pais como para filhos, principalmente em situações tão estressantes como a que temos vivido e na qual temos estado tão isolados do mundo: aproveitar a leitura e a conversa juntos e se acostumar a expressar o que se sente e canalizar isso na companhia de entes queridos é uma forma de construir bases sólidas para um lar-refúgio-fortaleza que nos dá serenidade e energia para enfrentar o que está por vir. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
EMOCIONÁRIO Autores: Cristina Núñez Pereira e Rafael Valcárcel Trad.: Rafaella Lemos Ilustração: Vários Editora: Sextante 96 págs.; R$ 49,90; R$ 29,99 o e-book