Exposição leva Kerouac e os malditos da 'geração beat' ao Pompidou, em Paris

Mostra apresenta 600 fotografias, além de documentos, filmes, vídeos, pinturas, gravuras, desenhos, etc.; veja o vídeo

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Por Maria Luisa Gaspar
Atualização:

PARIS - O talento criativo e autodestrutivo da “Beat Generation”, movimento que surgiu em Nova York no pós-guerra e viveu até a década de 60 seus melhores momentos em San Francisco, México, Paris e Tanger no Marrocos, toma do Centro Pompidou em Paris.

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E as façanhas dessa geração que escandalizou a nação puritana do senador americano McCarthy, famoso pela repressão de suspeitos pró-comunistas são celebradas com a exposição de 600 fotografias, além de documentos, filmes, vídeos, pinturas, gravuras, desenhos, objetos e aparelhos de reprodução de trabalhos escritos, de imagens e sons.

A espinha dorsal da mostra é uma bobina de papel de 36 metros de comprimento com o manuscrito de On The Road, de Jack Kerouac, clássico da literatura do século 20.

Cercada de vídeos e projeções de ambos lados a vitrina onde repousa o manuscrito serve de estrutura para o conjunto das salas e leva ao final desse périplo a alguns equipamentos de viagem de Kerouac: tênis, camiseta branca, calça cáqui, boné e sua garrafa de bolso para uísque.

Bobina de papel com o manuscrito de On The Road, de Jack Kerouac, é destaque na mostra do Pompidou Foto: Christie's via |The New York Times

Ao lado da obra de Kerouac, a exposição também se fixa na arte de viver compartilhada pelo escritor com William Burroughs e Allen Ginsberg, dois outros membros fundadores do movimento.

Seu encontro na universidade de Colúmbia, em 1944, marcou o plano de vida dos três amigos desde o início da Guerra Fria e em alguns anos, o de centenas de artistas e escritores afins.

“Todos fizeram uso imoderado de drogas”, disse o curador da mostra, Philippe-Alain Michaud, que trabalhou em colaboração com o americano Rani Gingh e o francês Jean-Jacques Lebel.

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Sua história “é violenta, repleta de morte, loucura e vícios, mas também de momentos de êxtase belíssimos, especialmente no México”, afirmou Michaud, que estruturou a exposição como um périplo geográfico.

Do princípio ao fim a mostra nos lembra da expansão do movimento de Nova York a San Francisco e como Kerouac encontrou no México, país de iniciação onde viveu a experiência do Yagé, a tradicional e psicotrópica Ayahuasca amazônica.

Paradoxalmente, foi a estadia na Costa Oeste que tornou famosa essa geração, e também deu origem a um processo por obscenidade - que eles ganharam - por causa da publicação do poema Howl de Ginsberg e sua histórica palestra na Six Gallery, outro lugar chave dos beatniks, juntamente com a editora City Lights, do também poeta Lawrence Ferlinghetti.

Também membro fundamental do grupo desde 1950, foi o marginal e nada universitário Gregory Corso, considerado por Michaud o quarto mosqueteiro, além de poetas como Philip Lamantia, Michael McClure ou Peter Orlovsky, outras figuras homenageadas na mostra em Paris.

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Pinturas, ilustrações, textos, filmes e artefatos diversos narram a passagem do grupo por Paris, entre 1958 e 1963.

A inspiração parisiense é ilustrada também pela reconstrução de um dos quartos do mítico hotel do Quartier Latin em que viveram, o “Beat Hotel”, reduto da marginalidade poliglota do pós-guerra e quartel-general das suas experiências.

Um ciclo de cinema, uma série de concertos e encontros, assim como outras programações completam a exposição que de certo modo reforça outra exposição recém-inaugurada no Centro Pompidou, “Un Art pauvre” cujos artistas, como os beatniks, criaram suas obras com recursos mínimos e mais reciclados. / Tradução de Terezinha Martino

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