Emilio Fraia será primeiro autor brasileiro a ter conto publicado na 'New Yorker'

A escolhida foi a história 'Agosto', presente no livro 'Sebastopol'; escritor é um dos indicados ao Prêmio Jabuti

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Por Ubiratan Brasil
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Cético, o escritor Emilio Fraia costuma ter baixa expectativa quando se vê em meio a disputa literárias. Assim, considera-se um azarão na categoria contos do Prêmio Jabuti, cuja premiação acontece na noite desta quinta-feira, 28, em São Paulo. “Minhas chances são pequenas”, garante ele, que tem seu livro Sebastopol em disputa com Geovani Martins (O Sol na Cabeça), Gustavo Pacheco (Alguns Humanos), Rodrigo Lacerda (Reserva Natural) e Vilma Arêas (Um Beijo Por Mês).

Escritor se considera o azarão do Prêmio Jabuti Foto: Renato Parada

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Um prêmio, no entanto, nenhum dos concorrentes poderá ostentar agora: o de ser o primeiro autor brasileiro de ficção a publicar um texto na tradicional The New Yorker que, prestes a completar 95 anos, é considerada uma das mais sofisticadas revistas americanas, dedicada a assuntos jornalísticos e literários. Na edição que deve circular a partir de 10 de dezembro, constará uma tradução de Agosto, o terceiro conto de Sebastopol. Com isso, Fraia figurará, aos 37 anos, ao lado de Affonso Romano de Sant’Anna, que ainda é o único poeta brasileiro a publicar uma poesia na revista.

E, antes mesmo de a publicação vir a público, Fraia já colhe os lucros: ele fechou contrato com a New Directions, editora de Nova York cujo catálogo exibe nomes como Roberto Bolaño, Natalia Ginzburg e Clarice Lispector. “Até então, não tínhamos recebido nenhum aceno de alguma editora americana”, observa Fraia. “Achei que o ciclo do livro tinha acabado.”

A publicação na New Yorker foi fruto de persistência – editor da Companhia das Letras, que lançou seu livro, Fraia e outros colegas (incluindo o publisher Luiz Schwarcz) conversavam despreocupadamente sobre o assunto quando decidiram arriscar e enviaram para a revista o segundo conto do livro, Maio.

Dias depois, já no mês de outubro, Fraia recebeu um telefonema de Schwarcz. “Eles adoraram e vão publicar uma tradução”, anunciou. “Só pediram para trocar por outro conto, pois aquele foi considerado grande”, acrescenta Fraia, que enviou, então Agosto.

A partir daí, o escritor iniciou uma conversa com Deborah Treisman, que desde 2003 é a editora de ficção da revista, para o acerto de detalhes. “Ela me fez uma série perguntas sobre os personagens, a relação dessa história com as outras do livro, meu conhecimento sobre a vida teatral de São Paulo”, conta Fraia, revelando que versão em inglês terá poucas modificações, como o uso de aspas para designar falas dos personagens (no original, não há nenhum sinal gráfico) e acrescentar o nome da cidade, São Paulo, em um trecho em que pedia uma localização mais precisa.

Os contos Sebastopol são interligados, ainda que possam ser lidos separadamente. Agosto mostra Nadia, jovem que participa da produção de uma peça sobre a cidade de Sebastopol e um pintor russo que retratava os soldados da Guerra da Crimeia. Enquanto ela quer desenvolver sua técnica, Klaus, amigo dramaturgo, quer uma peça de impacto. O resultado é um fracasso completo da encenação.

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