A editora argentina Vergara & Riba abriu uma filial no Brasil em 1999 e logo se tornou líder no segmento de gift books. O catálogo foi sendo ampliado com livros para garotas, livros de culinária e mandalas para colorir – bem antes que Jardim Secreto, o título mais vendido no Brasil em 2015, chegasse para agitar o mercado editorial e o de lápis de cor. Mas eis que o editor Fabrício Valério descobriu um livro sobre um certo garoto comum e um pouco tímido, Greg. Não havia nada para meninos no catálogo, o título parecia ter potencial e a editora resolveu arriscar: lançou Diário de Um Banana em 2008. Foi como ganhar na loteria.
Aquele título virou uma série com 10 volumes publicados e outros três prometidos, ganhou adaptações para o cinema e se transformou em leitura obrigatória (e desejada) para a molecada entre 8 e 12 anos. Editar essa coleção, descobrir os leitores, que se revelaram fanáticos, e trabalhar com um escritor simpático, carismático e superstar fisgou a editora. E o sucesso comercial da série de Jeff Kinney – são quase 7 milhões de exemplares comercializados aqui – deu fôlego para a V&R investir em livros para jovens leitores um pouco mais velhos que os fãs de Greg.
Em 2010, comprou os direitos de Maze Runner, de James Dashner, que também estourou. Saíram cinco volumes que venderam, juntos, 500 mil exemplares. A série já ia bem quando vieram os filmes, e o sucesso ganhou outra dimensão. Outras obras vieram depois – e até o fim do ano o catálogo de cerca de 450 títulos deve contar com 50 ou 60 livros para este leitor. Vale dizer que hoje o segmento responde por 25% das vendas totais.
Pensando em investir ainda mais neste público e para se posicionar melhor no mercado, a V&R apresenta nesta quarta-feira, 18, o selo Plataforma 21. Nele, estarão reunidos os lançamentos para leitores entre 14 e 25 anos – mas isso pode ser extrapolado, já que não são só jovens que gostam de distopia, por exemplo.
A estreia será com A Maldição do Vencedor, primeiro volume da Trilogia do Vencedor, da americana Marie Rutkoski. Aguardada por fãs de séries best-sellers como A Seleção, a obra conta a história da filha do general de um império em guerra que escraviza seus prisioneiros. Entre ingressar no exército ou se casar, ela prefere a música – e compra um escravo com talentos musicais por quem acaba se apaixonando. Estão no prelo, ainda, Crenshaw, de Catherine Applegate, The Reader, de Traci Chee, e Madness So Discreet, de Mindy McGinnis, que acaba de ganhar o prêmio Edgar Allan Poe, para obras de horror e mistério, na categoria literatura para jovem leitor. A meta é publicar 25 títulos este ano.
“Nos últimos tempos, fizemos uma prospecção passiva, observamos o que o público queria. Não faz mais sentido que uma editora em pleno século 21 diga o que você deve ler e ignore a vontade das pessoas. Nossos social media são uma espécie de busca avançada”, diz Fabrício Valério, gerente editorial da V&R. “E vamos às principais feiras internacionais, ficamos de olho no que está sendo lançado, temos uma boa rede de avaliadores”, completa Sevani Matos, diretora geral da editora.
O selo vai priorizar obras de ficção científica, fantasia, thriller, terror, romance, games e realismo contemporâneo. A concorrência é grande e as principais editoras têm selos próprios para este público – e investem bem no marketing.
Embora outras obras tenham tido sucesso comercial e formado muitos leitores no passado, foi Harry Potter, de J. K. Rowling, no final dos anos 1990, que apresentou um novo, e ávido leitor, ao mercado editorial. E foi o fenômeno Crepúsculo, de Stephanie Meyer, que atendeu um leitor um pouco mais velho, entre o adolescente e o chamado young adult, e fez surgir inúmeras séries e sagas, romances, sick-kit, etc., e uma legião de escritores. Uma rápida olhada nas listas de mais vendidos comprova que esses leitores são bons consumidores de livros.
Com 40 funcionários, a V&R se considera uma editora de médio porte. O Diário de Um Banana e Maze Runner foram duas apostas certeiras que colocaram a casa lado a lado com os grandes grupos. E ela quer provar que pode brigar de igual. “Um selo mostra ao mercado que temos a intenção de fazer algo mais vigoroso. Ninguém abre um selo para deixá-lo um pouco vazio, mas sim com uma estratégia de negócio por trás, mostrando que está na posição de investir e que está crescendo. É para mostrar que existe um novo jogador no mercado, que quer jogar em alto nível e fazer o seu barulho”, diz Fabrício Valério.