Com seu romance de mais fôlego, Barba Ensopada de Sangue (Companhia das Letras), Daniel Galera venceu o Prêmio São Paulo de Literatura e ganhou R$ 200 mil - é o valor mais alto pago em um concurso literário nacional. A obra, cujos direitos já foram vendidos para mais de 10 países, retrata o cotidiano de um professor de educação física que se estabelece numa cidade praiana catarinense na tentativa de desvendar a misteriosa morte do avô.
Além de Galera, foram premiados Jacques Fux e Paula Fábrio nas categorias autor estreante com menos de 40 anos e estreante com mais de 40 anos, respectivamente. Cada um deles ganhou R$ 100 mil.
Barba Ensopada de Sangue é o terceiro romance do autor, que estreou no gênero em 2003 com Até o Dia em Que o Cão Morreu, adaptado para o cinema por Beto Brandt - o filme ganhou o título de Cão Sem Dono. Depois vieram Mãos de Cavalo e Cordilheira, vencedor do Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.
Aos 34 e autor também da graphic novel Cachalote, em parceria com Rafael Coutinho, e do livro de contos Dentes Guardados, Galera, que nasceu em São Paulo e foi criado em Porto Alegre, desbancou veteranos como Zuenir Ventura e Francisco Dantas.
Concorriam, ainda, Evandro Affonso Ferreira, ganhador do Jabuti 2013 de melhor romance com O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam - Barba Ensopada de Sangue foi o terceiro colocado naquela competição, Ronaldo Correia de Brito, vencedor do São Paulo em 2009, Elvira Vigna, José Luiz Passos, Miguel Sanches Neto, Ricardo Lísias e Xico Sá.
Galera volta a se encontrar com Sanches Neto e Passos, e ainda com o português de origem angolana, Valter Hugo Mãe, na fase final do Prêmio Portugal Telecom, que anuncia o vencedor em 4 de dezembro.
Estreantes. Em 2013, a organização do Prêmio São Paulo desmembrou a categoria Melhor Romance de Autor Estreante em duas - uma para escritores com menos de 40 anos e outra para os com mais de 40. Aos 36 anos, o mineiro Jacques Fux foi premiado pelo romance Antiterapias (Scriptum), que acompanha a busca de um jovem judeu mineiro por um lugar no mundo - da infância aos seus 33 anos. Fux faz pós-doutorado e pesquisa literatura, trauma e as representações artísticas na Era Pós-testemunho do Holocausto. Em 2011, ele publicou Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o OULIPO e venceu o Prêmio Capes 2011 de melhor tese do Brasil em Letras/Linguística.
Nascida em 1970, em São Paulo, Paula Fábrio venceu a segunda categoria com Desnorteio (Patuá), um romance que discute questões sociais e psicológicas ao contar a trajetória de três irmãos que viram mendigos no interior paulista na segunda metade do século 20. Paula é formada em comunicação social, teve uma livraria, foi gerente de acervo da Biblioteca São Paulo e faz mestrado na USP.
Premiação. Daniel Galera não compareceu à cerimônia, realizada na noite desta segunda-feira, 25, no Museu da Língua Portuguesa. Segundo sua editora, a Companhia das Letras, ele está viajando a trabalho.
Jacques Fux e Paula Fábrio, os estreantes premiados, contaram que seus livros, editados pelas independentes Scriptum e Patuá, respectivamente, saíram com tiragens de 500 exemplares - a tiragem inicial de livros de autores nacionais de uma editora comercial é de 2 mil exemplares.
"Não vendi nem 200", disse Paula. "Eu não sei, mas não foi muito não", emendou Fux. Com o prêmio, esperam que suas obras tenham mais visibilidade.
Para Paula, a escolha dos dois indica um novo momento do mercado. "Ter autores estreantes, de editoras pequenas, aparecendo mostra que tem trabalho muito bom que não está nas grandes editoras."