Corto Maltés ressuscita e volta a navegar no perigoso século 21

O personagem criado por Hugo Pratt renasce graças à caneta de outros autores: os franceses Bastien Vivès e Martin Qenchen

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Por Jordi Zamora Barcelo e Hugues Honoré
Atualização:
Corto Maltés é um lendário personagem de história em quadrinhos cuja vida é ambientada entre final do século 19 e os prelúdios da Primeira Guerra Mundial. Foto: Norma Editorial

PARIS - Com seu eterno cigarro nos lábios e uma ruga a mais, o tenebroso marinheiro Corto Maltés reaparece 25 anos depois da morte do seu criador, o cartunista italiano Hugo Pratt, nas águas turvas do século 21.

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Corto Maltés é um lendário personagem de história em quadrinhos cuja vida é ambientada entre final do século 19 e os prelúdios da Primeira Guerra Mundial.

Seu criador, Hugo Pratt (1927-1995) o concebeu em branco e preto, sem matizes, como um viajante obstinado e imperturbável entre a África, Ásia e América Latina.

Como muitos outros personagens de grande sucesso, como Astérix, ou Blake e Mortimer, Corto Maltés renasce graças à caneta de outros autores. Neste caso, os franceses Bastien Vivès e Martin Qenchen.

Oceano Negro será lançado na França na quarta-feira e na Espanha em 24 de setembro, anunciou sua editora habitual, Norma, pelo Twitter.

Vivès e Quenchen optaram também por uma gama de cinzas. Sem medo de incoerências, Corto Maltés ressurge em 2001, continua jovem e delgado, e desfila pelas páginas no meio a uma conspiração no Pacífico, entre o Japão e o Peru.

“Colocar Corto Maltés numa paisagem contemporânea era para mim uma condição sine qua non. Porque é muito mais interessante adequá-lo aos nossos próprios códigos”, disse Vivès à AFP.

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“Além da figura do herói um pouco poeta e filósofo, o que nos inspirou especialmente foi o seu corpo”, disse Quenchen.

“Para nós a literatura, a poesia e a magia, passam através dos movimentos do personagem, as reações do seu corpo”, acrescentou.

Como muitos outros personagens de grande sucesso, Corto Maltés renasce graças à caneta de outros autores: os franceses Bastien Vivès e Martin Qenchen. Foto: JOEL SAGET / AFP

Segundo a editora Norma, Corto Maltés tem de transferir três malfeitores até uma embarcação em pleno Pacífico para um roubo que parece não ter problema.

Mas ocorre um massacre e Corto consegue salvar um ancião que carrega consigo um livro que poderia levar ao clássico Comentarios reales de los Incas, do inca Garcilaso de la Vega (1609), considerada a primeira grande obra da literatura peruana.

Entre o Japão e o Peru, o herói voltará a se encontrar com velhos conhecidos que têm contas a saldar com ele. Mas também personagens como o ex-secretário de Estado americano em 2001, Colin Powell.

O novo Corto Maltés contempla sem pestanejar os atentados de 11 de setembro a chegada das novas tecnologias.

“Era preciso inserir o suspense de novo. Na obra de Pratt há muito mistério, tentativas de assassinato. Mas em plena ação às vezes é tão poético que parece que Corto está sobrevoando os barcos”, disse Bastien Vivès.

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Pratt concebeu Corto Maltés como um anti-herói, nem pirata e nem romântico, capaz de citar os clássicos enquanto distribuía bofetadas.

Nas livrarias ele aparece com frequência na categoria de “romances ilustrados” e não na de histórias em quadrinhos como Marvel ou Homem Aranha.

Se alguém ler a série original “terá um pouco a impressão de que ele tem 100 anos. Mas no caso do nosso Corto ele tem 20”, explicou o cartunista.

Mas Vivés admite também que Pratt conseguia, com poucos traços, “mostrar uma violência que dava uma grande força ao seu desenho”.

“Não pretendíamos nos arriscar e cometer um sacrilégio, ser punks. Decidimos fazer um Corto Maltés como gostaríamos de ler. Um Corto com a curiosidade de uma criança, que, quando lhe dizem para não ir a um lugar, é para lá que ela vai”.

Tradução de Terezinha Martino

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