Com rigor e franqueza, nova biografia tenta decifrar a figura de Ruy Guerra

A professora Vavy Pacheco Borges, autora de 'Paixão Escancarada', disse que 'vida de romance' a inspirou

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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Ruy Guerra: Paixão Escancarada, biografia do grande cineasta moçambicano-brasileiro, será lançada nesta terça-feira, 8, na Livraria da Vila. A autora, a professora da Unicamp Vavy Pacheco Borges, dedicou quase 10 anos à obra. Pela importância do biografado, e pelo rigor com que seu perfil foi traçado, o volume já pode ser considerado um dos lançamentos do ano e presença obrigatória nas estantes de quem gosta de cinema, cultura e história.

Com obras como Os Cafajestes e Os Fuzis, Ruy Guerra foi um dos principais nomes do Cinema Novo brasileiro. Formado na França, amigo e parceiro de Chico Buarque de Holanda, próximo de Gabriel García Márquez e da Escola de Cinema de Cuba, Ruy Guerra continuou a fazer cinema em filmes como A Queda, Ópera do Malandro, Estorvo e O Veneno da Madrugada. Escreve letras de música e crônicas, dirige peças de teatro, viveu nos três continentes e é dono de obra respeitada em qualquer das manifestações a que se dedica. Como e por que biografar um ser tão múltiplo?

O cineasta Ruy Guerra Foto: Tasso Marcelo/Estadão

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A historiadora conta: “Aposentada das aulas da Unicamp, precisava de um desafio. Seguir os passos desse leão africano mundo afora foi a aventura que eu esperava”, diz. Vavy reconhece que Ruy teve (e tem) uma vida de romance “inserida voluntária ou involuntariamente nos grandes lances do século 20”. Tal inserção apaixonada nos desafios do seu tempo tornou-se muito atrativa para uma historiadora experiente.

Mas tal aproximação não se deu sem percalços. Afinal, ninguém se aproxima do “leão” impunemente. “Entre e-mails não respondidos, telefonemas respondidos de forma lacônica, frases não conclusivas, esperei oito meses para receber um sim.” E ajunta: “Espero que os leitores achem que valeu a pena”.

Para levar a cabo sua missão, a pesquisadora foi exaustiva. “Centena e meia de entrevistas com parentes, amigos e com aqueles que trabalharam com Ruy. Consultas a arquivos oficiais ou não em três continentes, pesquisa permanente em jornais, revistas, blogs que tratam do Ruy antes e no período de levantamento de dados. E, por certo, a convivência com o personagem.” No meio do percurso, uma surpresa muito bem-vinda: “Ruy me confiou seu acervo particular, com liberdade de usar o que quisesse e sua promessa de não interferir em nada, pois somente leria o livro depois de impresso”.

Após a coleta da montanha de material, Vavy lançou-se à tarefa que, entre historiadores, é conhecida como “faxina”. Isto é, a dura organização do material e a difícil decisão sobre o que publicar ou não. “Nessa etapa, guiei-me pelos meus já bastante conhecidos princípios do métier de historiadora e não por um medo de magoar alguém”, diz.

A liberdade e franqueza são fundamentais para a qualidade do trabalho. Mesmo porque, segundo lhe disse o diretor Cacá Diegues, amigo do cineasta, “se você fizer uma biografia chapa branca, o Ruy não vai respeitá-la”.RUY GUERRA - PAIXÃO ESCANCARADAAutora: Vavy Pacheco BorgesEditora: Boitempo (496 págs., R$ 59) Lançamento. Livraria da Vila. Alameda Lorena, 1.731. Tel. 3062-1063. A partir das 18h30

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