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'Coleção Vaga-Lume' conquistou uma legião de leitores - e fãs - ao longo de quatro décadas

Série juvenil lançou cerca de 100 títulos, entre os quais 'O Escaravelho do Diabo', que chega agora aos cinemas

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Mais querida entre as coleções de livros já criadas no Brasil, a Vaga-Lume revolucionou a leitura escolar e a escrita de livros para crianças e adolescentes, caiu no gosto popular e formou gerações e mais gerações de leitores. Desde os primeiros lançamentos (A Ilha Perdida, Coração de Onça, Éramos Seis e O Cabra das Rocas), em 1972, foram vendidos 7,5 milhões de exemplares.

Em popularidade, O Escaravelho do Diabo, livro de Lúcia Machado de Almeida (1910-2005) que chega agora aos cinemas, só perde para A Ilha Perdida. O best-seller de Maria José Dupré (1898-1984) foi publicado em 1944 e incluído na primeira leva da coleção. Já O Escaravelho saiu um pouco depois, em 1974. Não se tratava de uma obra nova. O thriller juvenil sobre uma série de crimes praticados na tranquila Vista Alegre, em que as vítimas eram todas ruivas e recebiam um besouro antes de morrer, foi apresentado aos leitores da revista O Cruzeiro, em formato de folhetim, entre outubro e dezembro de 1953.

'O Escaravelho do Diabo' foi publicado como folhetim na revista 'O Cruzeiro' em 1953, quase 20 anos antes de chegar à 'Coleção Vaga-Lume' Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

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Os dois títulos, e outros oito volumes emblemáticos da coleção, ganharam novo projeto gráfico em setembro do ano passado anunciando, em vão, o início de um novo tempo. A ideia era que, sistematicamente, outros títulos fossem repaginados, que eles estivessem mais presentes nas livrarias – e não apenas na sala de aula, e até que autores contemporâneos escrevessem novas aventuras para a coleção. Poucos dias depois, no entanto, os leitores foram surpreendidos com a notícia de que ‘literatura de entretenimento’ estava fora dos investimentos futuros do Grupo Somos Educação, que focaria, apenas, em didáticos e paradidáticos. Os departamentos editoriais da Ática e Scipione foram demitidos e o futuro da coleção foi questionado. Os títulos continuam em catálogo, mas nada novo foi feito desde a época.

A Coleção Vaga-Lume foi pioneira e fez escola. Ela surgiu num momento especial para a educação brasileira, logo após a reforma de 1971, que estendeu o ensino obrigatório até a 8.ª série. Nessa nova Lei de Diretrizes e Bases, foi incluída uma cláusula que recomendava a preferência pela adoção de obras nacionais. Vale lembrar que, até então, as crianças eram apresentadas à literatura por meio de clássicos e que, àquela altura, a demanda por obras contemporâneas crescia.

Com 28 edições desde 1974, 'O Escaravelho do Diabo' é o segundo título mais vendido da 'Vaga-Lume' Foto: Reprodução

Foi quando a Ática, já forte em material didático, pensou na Vaga-Lume. Por uma década, ela reinou sozinha, e então a concorrência acordou. Mas ela contratou Marcos Rey e, com seus romances policiais que fizeram muito sucesso, a coleção garantiu seu espaço nas mochilas das crianças e nas bibliotecas escolares.

As tiragens eram grandes – algo como 80 mil exemplares, o suficiente para abastecer as escolas por um ano. Então novas turmas chegavam para conhecer os livros e a Ática imprimia mais – O Escaravelho está na 28.ª edição. Com o passar dos anos, a literatura feita para jovens leitores no País se profissionalizou e ganhou reconhecimento internacional. E, com a criação do Plano Nacional de Biblioteca Escolar em 1997, muitas editoras passaram a se dedicar ao gênero – e a Vaga-Lume perdeu um pouco de sua relevância. Nunca, porém, saiu do imaginário e da memória afetiva de muitos brasileiros que descobriram o gosto pela leitura por meio de obras escritas por Maria José Dupré, Lúcia Machado de Almeida, Marcos Rey, Marçal Aquino, Marcelo Duarte, Luiz Puntel e tantos outros autores que criaram boas histórias e não menosprezaram a inteligência das crianças.

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