A artista plástica Floriana Breyer lança livro sobre ecologia e a coragem para fazer escolhas

A aventura, destinada a crianças maiores de 8 anos, segue um caminho, mas oferece várias trilhas ao leitor

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Por Fernanda Araújo
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O livro Manual do Guerrilheiro Verde Mirim, da gaúcha Floriana Breyer,foi escrito para quem gosta de tomar banho de chuva, seguir vaga-lumes e comer fruta no pé. As sugestões integram uma lista formada por 30 itens relacionados nas Instruções Básicas de Sobrevivência do Guerrilheiro, na página 70. "O título nasceu de numerosos encontros comuns do dia a dia da cidade e surpreendentes encontros com a natureza, projetos e pessoas que estão batalhando por um mundo melhor. Uma das pessoas que inspiraram este livro foi o pesquisador Peter Webb, que convidei para ser um consultor do projeto. E também meu pai, Lacê, um botânico e amante das flores e caminhos verdes. Considero a obra uma convergência de diversos temas, linguagens artísticas e vivências que tive nos últimos dez anos com arte política, ecologia profunda, engajamento socioambiental e intervenções artísticas urbanas", explica a escritora, que é artista plástica, arte-educadora e gestora do espaço cultural Guarda Chuva. A história deste primeiro livro de Floriana trata de Fiorela, uma menina curiosa que tem duas pulgas atrás da orelha, chamadas de Theo e Teresa. A aventura, destinada a crianças maiores de 8 anos, segue um caminho, mas oferece várias trilhas ao leitor. O acesso é realizado com uma bússola desenhada em diferentes tamanhos e páginas, que sugere novos rumos pelos quais a leitura pode seguir ou ações para esquentar o clima da guerrilha verde. Na página 46, por exemplo, o instrumento de navegação oferece três possibilidades: "a) se você quer seguir a luz verde, vá para a página 56; b) se você está com medo da escuridão e prefere voltar para a cama e se esconder embaixo das cobertas, vá para a página 8; c) se você não está nem aí para essa luzinha e queria mesmo era ligar a televisão, vá para a página 60". "Esta foi a grande sacada do livro. Eu estava em crise durante a escrita do manual, lendo diversos outros manuais e literaturas da área ambiental e achava tudo chato, tudo com regras de como fazer, do que pode e do que não pode… Aí decidi fazer um manual no qual cada um escolhe o que quer fazer e arca com as consequências disso", diz ainda Floriana Breyer. "As escolhas surgem como chave para uma transformação do planeta e das nossas vidas. Além disso, quis fazer um livro interativo, que os jovens possam ler e brincar com ele. A ideia era criar algo com uma interface de interatividade, numa era na qual a oferta de interatividade é abundante. Além disso, criei uma narrativa ficcional pautada em questões reais, mas com uma pitada de realismo fantástico e salpicada de poesia. O livro História Sem Fim, de Michael Ende, foi uma grande referência para mim no que diz respeito ao transitar entre realidade e ficção e falar diretamente com o leitor", acrescenta a autora. Durante a criação da obra, Floriana pesquisou referências e rabiscou personagens e cenários em seus caderninhos de anotações. Depois, ela percebeu que a visão de outras pessoas era necessária para compor a história dentro de um processo colaborativo. Assim, com Juliana Russo e Rafael Ánton desenharam a seis mãos o primeiro boneco do livro. "Juliana, que é uma amante das cidades e dos traços finos, ficou com a parte do livro referente à vida real, aos sistemas de tecnologia verde e às ilustrações das falas de alguns personagens. E o Rafa entrou com toda explosão de cores e a criação de personagens, ilustrando o universo mágico do livro. Em seguida, a diagramadora Erika Cardoso e eu fizemos o projeto gráfico juntando tudo isto!" As ilustrações de Rafael Antón e Juliana Russo, de fato, complementam a aventura, mas, assim como as páginas do livro, às vezes, ganham funções independentes. Caso da figura de Fiorela Verdi, no canto inferior da página 12, que, ao mostrar uma menina diante de um facho de luz, desperta a imaginação dos leitores para outras possibilidades, além das descritas no texto. No meio da produção, Floriana transformou o seu apartamento no bairro de Santa Cecília em um "laboratório de tecnologias verdes e cultura urbana", como ela define. No local, criou telhado verde, edícula de bambu, minhocário, composteira e sistema na reúso de água do banho. Um laboratório mesmo, já que alguns experimentos não deram certo. "O maior desafio é não desistir. Manter-se desperto, com o coração disponível para encarar desafios. As pulgas também não saem de trás da minha orelha", brinca a escritora, referindo à protagonista. As semelhanças entre Fiorela e Floriana são tantas que Manual se aproxima de uma autobiografia. A autora, porém, é categórica e garante que Fiorela tem vida própria e é sua grande aliada. No projeto todo, o livro é somente a primeira parte. Amanhã, tem início a segunda parte. A contação de história, planejada para o evento de lançamento, tem a participação da percussionista Aishá Lourenço (que trabalha com Naná Vasconcelos) e inclui peças produzidas pela Cia. Bonecos Urbanos, além de objetos cênicos do artista plástico Peetssa. "A ideia é rodar o Brasil com essa contação de histórias, promover oficinas verdes e a distribuição do livro gratuitamente para comunidades de baixa renda do País", conclui a gaúcha Floriana Breyer.MANUAL DO GUERRILHEIRO VERDE MIRIMAutor: Floriana BreyerIlustradores: Rafael Antón e Juliana Russo. Editora: Leya (104 págs., R$ 38)

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