Zuenir Ventura discute futuro do livro em São Paulo

Escritor defende o jornal e o livro diante dos avanços tecnológicos no 'Sempre um Papo', no Sesc Vila Mariana

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Por Ubiratan Brasil
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Os mais alarmistas acreditam que a venda do livro em papel será ultrapassada pela da versão eletrônica (e-book) em 2018, da mesma forma que o jornal impresso também tem seus dias contados graças aos avanços tecnológicos. Arautos do apocalipse, no entanto, não impressionam o escritor e jornalista Zuenir Ventura. "Ouço essa história desde que comecei minha carreira, em 1958, especialmente quando surge uma nova tecnologia", comenta ele, que participa nesta quarta, 16, do último encontro do ano do evento Sempre um Papo, no Sesc Vila Mariana, a partir das 20 horas, com entrada franca.

 

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Zuenir vai tratar justamente das especulações sobre o fim do formato atual do jornal e do livro. "Claro que não tenho respostas conclusivas, mas vou relembrar como, em outras épocas, o fim desses meios também foi decretado", disse. "Já no início da história do conhecimento humano, o surgimento da escrita era apontado como uma ameaça à memória, que se extinguiria pela falta de uso uma vez que tudo passaria a ser documentado."

 

Contrário a antagonismos, Zuenir Ventura, autor de clássicos  como 1968 - O Ano que Não  Terminou (Planeta), aposta no ajuste e não na extinção desses meios ameaçados. "O jornal sobreviveu ao rádio, à televisão e, agora, resistirá diante da internet. O que acredito ser o caminho da sobrevivência é a formulação de sua pauta, ou seja, o texto do jornal impresso deverá ser cada vez mais interpretativo e não apenas informativo."

 

Segundo ele, o turbilhão de notícias disponíveis a cada segundo na rede mundial mais confunde que informa as pessoas, especialmente os jovens, que muitas vezes ainda não coletaram conhecimento necessário para filtrar os fatos e dali desprender a essência. "Percebo uma grande diferença entre a geração atual e a minha", observa Zuenir, que completou 78 anos em junho.

 

"Enquanto meus pares lutavam por uma ideologia, os jovens de hoje não têm mais certeza. O que comprova que o excesso de informação provoca ruídos e, às vezes, até indigestão."

 

Zuenir ficou satisfeito com as declarações de Timothy Balding, presidente da Associação Mundial de Jornais, que, durante o 62º Congresso da entidade, realizado entre 30 de novembro e 3 de dezembro na Índia, declarou-se na contramão das previsões mais pessimistas, ao afirmar que a indústria de jornais está longe do apocalipse. "É normal acontecer alguma oscilação no número das vendas, mas nada que possa abalar as estruturas", comenta Zuenir O livro também vive ameaçado, mas continua firme. O incremento de aparelhos digitais de leitura, conhecidos por e-books, é fato: segundo uma empresa de pesquisas (Forrester), cerca de 3 milhões de leitores digitais serão vendidos nos Estados Unidos até o final do ano, contra uma previsão inicial de um milhão, um aumento favorecido por preços mais baixos, variação no conteúdo e melhor distribuição.

 

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Mas os puristas apontam uma qualidade da obra em  papel que a ferramenta digital ainda não consegue oferecer: o prazer olfativo de se folhear um livro. "Isso ainda é insubstituível", comenta Zuenir que, diante das incertezas que sempre marcam o surgimento de novas tecnologias, aposta na manutenção dos objetos mais tradicionais. "Um mérito da internet foi ter incentivado o ato da escrita, especialmente entre os mais jovens Mas a linguagem ainda é tão estereotipada que livros e jornais despontam como os salvadores da gramática."

 

Para Zuenir, a vitória, ao final, será da necessidade humana de leitura - esta vai sempre permanecer, independente da mudança de suporte. "Seja em papiros ou em e-books, o homem terá sempre uma vontade interminável de ler, de se comunicar, algo que, com o tempo, se transformou em uma necessidade biológica."

 

Sempre Um Papo com Zuenir Ventura. Sesc Vila Mariana. Auditório (131 lug.). R. Pelotas, 141, Vila Mariana, telefone 5080-3000. Quarta (16), 20h. Grátis

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