Zélia Gattai lança "Jonas e a Sereia"

Seu novo livro para o público infanto-juvenil explora o mito das sereias e como sempre faz referências ao marido Jorge Amado, aos amigos, à família. A Record, que publica os livros do casal, decidiu reeditar A Bola e o Goleiro, um dos raros títulos infantis de Jorge Amado

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Por Agencia Estado
Atualização:

O amor de Zélia Gattai por Jorge Amado continua inesgotável. Em Jonas e a Sereia, obra destinada ao público infanto-juvenil, lançado nesta semana, com ilustrações de Roger Mello, ela reproduz uma frase dele: "Pra quem ama de verdade, o impossível não há". "Jorge sempre esteve presente na minha vida e em minha obra; afinal, já são 55 anos de casados", orgulha-se Zélia, autora de 12 livros, dos quais 7 de memórias. No livro, uma professora primária, Carolina Spacaferro, conta aos alunos a lenda das sereias. Na versão de Zélia, um pescador chamado Jonas, amigo das ondas, pesca um belo peixe vermelho. Para sua surpresa, o bicho fala, com uma voz feminina e em português. "Fui criada em oceanos brasileiros", justifica. Jonas se apaixona. Ela pede para voltar ao mar e ele mergulha para acompanhá-la. A impossibilidade de ficar muito tempo embaixo d´água, porém, obriga-o a voltar para seu barco e, em seguida, para a costa. Alguns anos depois, ao retornar ao local exato onde conheceu o peixe vermelho, Jonas encontra, em um recife, uma criatura maravilhosa, com os mesmos olhos expressivos do peixe. A bela sereia olha para Jonas e o chama de pai. "Estudei, durante muitos anos, sobre as sereias, mas nunca descobri sua origem", conta Zélia. A sugestão da escritora é que ao mergulhar atrás de sua amada, Jonas percebe que ela está botando suas ovas. Zélia não explica como, mas ele teria participado da fecundação, o que justificaria ser chamado de "pai". Diante dos protestos dos alunos, inconformados com a relação entre um homem e um peixe, a professora Carolina utiliza a frase de Jorge Amado sobre a falta de explicação para um amor verdadeiro. Zélia deu os nomes dos netos e do genro para os alunos da história - a única exceção é Alvinho, um amigo de infância, além de velhos conhecidos. "Normalmente é assim: sempre trago as pessoas que gosto para meus livros", conta Zélia. O livro foi escrito em versos. "Desde criança, estou acostumada a ouvir histórias narradas em redondilhas, o que influenciou minha forma de escrever", explica. A escritora terminou a escrita de Jonas e a Sereia em setembro de 1999, mas esperou passar as Olimpíadas e eleições. A história, ela criou durante a convalescência do marido que, desde 1996, sofre com problemas coronários e de visão, que o impedem de ler e sentir fortes emoções, além de obrigá-lo a manter uma vida reservada, em sua casa no Rio Vermelho, em Salvador. "Leio para ele os jornais do dia, passeamos em nosso jardim, cuido da medicação", conta. Filtra as notícias, evitando revelar, por exemplo, a morte de amigos queridos. "Ele não pode sentir fortes emoções", Escreveu Jonas e a Sereia e Città di Roma, seu sétimo volume de memórias, nos momentos em que Jorge descansava. "Foi uma forma que encontrei para me manter ocupada, pois, apesar de começar a escrever aos 63 anos, tornei-o um hábito em minha vida", conta Zélia, que não se preocupa em fazer pesquisas. "Sempre trabalhei ao sabor da memória, o que me satisfaz muito mais. Jonas e a Sereia. De Zélia Gattai. Editora Record, 36 páginas. R$ 15

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