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Zélia Gattai aguarda no Rio eleição da ABL

Ingresso da escritora na Academia Brasileira de Letras, ocupando vaga deixada por Jorge Amado, é dado como certo. Amanhã aguardará o resultado da eleição em seu apartamento de Copacabana, só com os filhos e os amigos mais próximos

Por Agencia Estado
Atualização:

Nem a gripe impediu a escritora Zélia Gattai de estar no Rio para a eleição, amanhã, para a vaga número 21 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que foi ocupada por seu marido, Jorge Amado, e para a qual é candidata praticamente eleita. Ela deve chegar ao Rio hoje à tarde, mas não vai ao Petit Trianon, onde 38 imortais (ou parte deles) devem ungir seu nome, em sessão extraordinária marcada para as 16 horas. Afinal, isso feriria o protocolo da casa de Machado de Assis que determina ao(s) candidato(s) aguardar(em) em casa. Zélia nega também que esteja preparando uma festa para os colegas "no caso de ser eleita". Segundo disse de manhã, antes de embarcar, "se alguém quiser aparecer e me dar um abraço, vai tomar um drink". Por via das dúvidas, ela não receberá ninguém em seu apartamento em Copacabana, na zona sul, antes das 17 horas, quando já deverá ter saído o resultado. "Afinal, ninguém sabe o que vai acontecer", justifica-se modesta. Se a eleição de Zélia é certa, terá sido tranqüila, sem controvérsias. Outras 12 pessoas se inscreveram para a cadeira que foi de Amado por 40 anos (ele foi eleito em 1961) e que teve o próprio Machado, fundador da Academia, como primeiro ocupante. Há até anticandidato, o jornalista Joel Silveira, que concorre pela segunda vez, agora mais por birra (ou rebeldia, para não contrariar a elegância da casa), porque implicou com a idéia de que Zélia, como viúva Amado, herdava sua imortalidade. "Entrei para quebrar o serviço dela. A cadeira da ABL não faz parte do espólio do acadêmico", disse ele quando se inscreveu. Jorge Amado morreu em 6 de agosto, uma segunda-feira e antes da reunião habitual da quinta-feira seguinte, já havia nomes comentados na Casa de Machado, embora seja considerado pecado mortal lançar-se candidato antes da sessão da saudade, quando os colegas recordam o amigo morto. O cardeal-arcebispo d. Eugenio Sales e os escritores Fernando Sabino e Rubem Fonseca foram lembrados, mas declinaram de imediato. Paulo Coelho (que agora concorre à vaga de Roberto Campos, a ser votada em março) e Antônio Torres (que já recebeu o prêmio Machado de Assis, praticamente um convite à candidatura) preferiram aguardar e desistiram de se lançar. O humorista e agora entrevistador Jô Soares foi afoito, lançou-se candidato no dia da sessão da saudade, numa entrevista em seu programa na Rede Globo, com a imortal Nélida Piñon, para constrangimento dela e de alguns acadêmicos que até cogitariam apoiá-lo, não fosse a gafe. Mas na semana seguinte, quando Zélia oficializou sua candidatura, em telegrama ao presidente da Casa, Tarcísio Padilha, com cópia para os imortais e exemplares de alguns de seus livros, houve uma retração de candidatos. Ao menos entre os com chances de se eleger. Joel Silveira entrou no páreo logo depois para desafinar o coro. Encontrou eco em alguns acadêmicos como Gerardo de Melo Mourão e o poeta Ledo Ivo. "Ele disse que eu tenho 15 votos, mas não deve ser verdade. É gentileza dele", comentou Silveira na época, referindo-se ao poeta. A tropa de choque de Zélia não descansou. "Ela não será eleita por ser viúva de Jorge, mas porque sua obra tem valor. Os livros dela são bons", contrapôs Marcos Villaça. Zélia fez ouvidos moucos à discussão. "Essa história de academia me diverte e distrai da minha tristeza. Mas não faço campanha nem peço votos", rebateu, com elegância. E não fez mesmo. Sequer as visitas de praxe. De agosto até agora, ela lançou seu 13.º livro, Códigos de Família, escrito no período mais crítico da doença de Jorge Amado, quase como terapia para não cair na depressão de ver seu companheiro de mais de 50 anos morrendo aos poucos. Nas entrevistas que deu sobre o livro, não tocou na candidatura e desconversou quando o tema era abordado. Em meados de novembro, pouco antes de embarcar para o México, onde Amado foi homenageado na Feira do Livro de Guadalajara, sentenciou: "Não tenho mais idade para ficar viajando e visitando todo mundo. Mandei alguns de meus livros para os acadêmicos e aguardo. Se for eleita, ficarei feliz; se não, tudo fica como antes." Mas, segundo seus cabos eleitorais, ou seja, os imortais que a querem na ABL, a eleição já estava garantida desde o início de novembro. Já na primeira semana, o professor Arnaldo Niskier comemorava. "Fechamos o quórum de 19 votos (são 38, correspondentes às cadeiras ocupadas) com a adesão das escritoras Nélida Piñon e Rachel de Queiroz, importantes porque agora todas as imortais votam nela", contabilizou. "Lygia Fagundes Telles foi seu segundo voto declarado, logo após José Sarney." Conformado com a derrota anunciada, Silveira também não visitou os acadêmicos. Não por descaso, mas por problemas de saúde, que o forçam a ficar em casa. Mas ficou satisfeito com sua anticandidatura e ainda lembrou que, da primeira vez em que se candidatou, a iniciativa de se retirar do pleito foi dele mesmo. "Desta vez, fui o anticandidato e acabei ganhando apoio de quem nem esperava. Se tiver cinco votos, vai ser muito bom", tem dito ele. "Na primeira vez, me ofereci para a vaga de Barbosa Lima Sobrinho, mas desisti quando o Raimundo Faoro se candidatou. Ele possui muito mais cabedal que eu e não tinha graça tirar uns votinhos de alguém tão expressivo." Esta semana, Zélia contrariou seu hábito e não atendeu telefone. Recuperava-se da gripe e agüentar a festa que será sua eleição (praticamente certa). Ela estará em seu apartamento de Copacabana, só com os filhos e os amigos mais próximos.

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