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Yuka: violência mobiliza autoridades do Rio

Três delegacias e um batalhão da PM foram acionados para achar assaltantes que balearam o baterista do Rappa. A pedido do governador Anthony Garotinho, o subsecretário Lenine de Freitas foi visitar o músico e disse que já há pistas

Por Agencia Estado
Atualização:

A violência urbana retratada pelas músicas do grupo O Rappa atingiu um de seus integrantes, o baterista Marcelo Fontes Nascimento Santana, o Yuka, de 35 anos. Ele está internado em estado grave no Hospital do Andaraí, depois de levar três tiros de pistola numa tentativa de assalto na Tijuca, zona norte do Rio, na noite de quinta-feira. Yuka sofreu quatro cirurgias e corre o risco de ficar paraplégico. Por volta das 22h30, Yuka passava em seu automóvel Toyota pela Rua Andrade Neves, perto da casa onde ela mora, quando viu oito homens armados abordando a ocupante de um Pointer, identificada como Ana Cláudia. O baterista deu marcha-ré e acabou sendo alvejado pelos ladrões. Segundo familiares, ele teria agido para impedir a ação dos bandidos, para proteger a moça. Yuka poderia ainda ter tentado fugir, com medo de também ser roubado. O músico foi atingido por três balas: uma no abdome, que atravessou o corpo de Yuka, uma no tórax, que ficou alojada a 5 milímetros da medula óssea, e uma no braço esquerdo, que também se alojou. Socorrido por uma ambulância da Defesa Civil, o músico foi levado para o hospital e encaminhado para o centro cirúrgico por volta das 23 horas. A operação só terminou às 7 da manhã. O primeiro procedimento dos médicos foi no tórax, de onde foi retirada uma bala. Em seguida, a intervenção foi no abdome e, depois, na coluna, perto da segunda vértebra - o mais delicado. Yuka foi então levado para o Setor de Recuperação Pós-Anestésica do hospital. Por volta das 13 horas, foi a vez da cirurgia ortopédica, necessária porque o baterista teve uma fratura exposta no úmero, osso do braço esquerdo próximo ao ombro. Até as 17 horas, a operação não havia terminado. Paralisia - Segundo o neurocirurgião Ênio De Vuono, que atendeu o músico, é cedo para afirmar se o músico terá seqüelas. "A medula óssea não foi lesionada, o que é uma ótima notícia. Mas tudo vai depender da recuperação dele nos próximos dias", afirmou o médico. Antes de ser operado, Yuka conversou com seu pai, o administrador de empresas Djalma Santana, e lhe disse que não conseguia movimentar as pernas. "Ele ficou muito abalado e eu tentei tranqüilizá-lo", contou Santana. Os bandidos fugiram em dois carros roubados: uma Blazer e um Gol, levado pouco antes na própria Rua Andrade Neves. O Gol, de propriedade de Diego Regale, foi encontrado numa rua próxima ao local do crime com marcas de sangue - o que levou a polícia a concluir que houve troca de tiros entre os bandidos. Testemunhas contaram que o grupo se dividiu em dois - metade tentou roubar o Pointer de Ana Cláudia e a outra metade fechou a rua com a Blazer, para impedir que a polícia atrapalhasse o roubo. Os dois grupos teriam atirado na direção de Yuka, que ficou sob fogo cruzado. O secretário Estadual de Segurança Pública, coronel Josias Quintal, que acionou três delegacias e o batalhão da Polícia Militar da Tijuca para agilizar as investigações, determinou empenho na busca dos bandidos. "Vamos fazer um trabalho rápido e eficaz", afirmou Quintal. Durante todo o dia de ontem, parentes e amigos de Yuka, como os cantores Ed Motta e Ivo Meirelles, estiveram no hospital para saber notícias do baterista. Pista - A pedido do governador Anthony Garotinho, o subsecretário estadual de Planejamento Estratégico, Ensino e Instrução, coronel Lenine de Freitas, foi ao hospital visitar Yuka e disse que a polícia já tem pistas sobre um dos bandidos. "Estamos apurando o caso de um homem internado por disparo de arma de fogo na madrugada de hoje (ontem), possivelmente dentro do Gol", disse o coronel. Freitas afirmou que o bairro do Tijuca tem um dos menores índices de criminalidade da cidade por ser bem policiado. O pai do músico disse que o baterista, que também é compositor da banda, sempre foi engajado socialmente. "Ele sempre foi assim", contou. "Uma vez, tentou salvar uma senhora idosa de ser assaltada, perto do Maracanã, e saiu correndo atrás do bandido. Mais tarde, viu que se arriscou demais e se arrependeu". Djalma Santana disse ainda que a família continuará vivendo no Rio, sem alterar sua rotina. "Nessa cidade, só Deus resolve". Yuka e os outros quatro integrantes d´O Rappa desenvolvem projetos sociais em parceria com a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase). O mais recente CD do grupo, Lado B Lado A, lançado em setembro do ano passado, teve 5% de sua vendagem destinada à Fase, e o material de divulgação do CD pede contribuições financeiras para as campanhas sociais. Lourenço Zanetti, que coordena um dos projetos da Fase, disse que "o Rappa tem uma forte identificação com os trabalhos sociais". "Como nós, eles lutam para mudar a desigualdade social no mundo", disse Zanetti, acrescentando que Yuka é "muito sensível às injustiças". O projeto "Na Palma da Mão" (título de uma música cuja letra foi composta por Yuka) incentiva iniciativas de jovens carentes que desejam ser "protagonistas", como informa o site da banda na Internet (www.esquadro.com.br/ ?orappa). "O grupo ajuda a dar visibilidade a um trabalho que não tem espaço na mídia", disse Zanetti. O Rappa cancelou um show que faria ontem à noite em Osasco. A banda ainda não definiu o que vai fazer durante a recuperação de Yuka.

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