Yoko Ono diz que já era artista antes de conhecer Lennon

No Brasil, artista faz coletiva de imprensa para apresentar exposição 'Yoko Ono - Uma Retrospectiva'

PUBLICIDADE

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Não é um ato de muita originalidade odiar Yoko. Duro mesmo é achar alguém que goste dela ou de sua arte. É provável que na exposição Yoko Ono – Uma Retrospectiva, que será inaugurada sábado, 10, no Centro Cultural Banco do Brasil, se aprofundem tanto a rejeição quanto a admiração pela artista japonesa.   Yoko realiza também a performance Uma Noite com Yoko no Teatro Municipal, na quinta-feira, 8. Sobre a mostra, ela perpassa sua carreira por meio de uma seleção de cerca de 70 de suas obras, incluindo vídeos e registros de performances, criadas entre a década de 1960 e 2005.     Veja também: Mostra Yoko Ono   'Não quero minha obra em porão de museu', diz Yoko Ono   Admiração pela profunda coerência de seus pressupostos zen, que vêm de 1955. Ela constrói suas "instruções" como se fossem haicais, e os espalha pelas paredes do centro cultural: "Caminhe sobre as pegadas da pessoa à sua frente: 1) no chão; 2) na neve) 3) no gelo; 4) na água. Tente não fazer barulho. Yoko Ono, Primavera de 1964."   Em contrapartida, sua presença aqui permitirá a exteriorização do desprezo pelo que alguns chamam de "picaretagens" - as instalações óbvias, ready-mades pobres, o discurso "populista", ou as muitas "bobagens" (como as fotos de uma vagina e um seio da obra intitulada Minha Mamãe É Linda). É ela mesma quem põe gasolina na fogueira, ao dizer, sobre a instalação Water Event: "A água pensa, sente e cura."   O curador Gunnar Kvaran explicava na manhã de terça-feira, 6, um pouco antes do encontro de Yoko com uma centena de jornalistas, no CCBB, que uma das perspectivas da arte da viúva de Lennon é anticomercial. Para Kvaran, ela prioriza o valor da idéia e, por conseguinte, diminui o valor do objeto (fetiche comercial das galerias e dos colecionadores).   Filha do happening dos anos 60, avó espiritual de Björk, Cibelle e Devendra Banhart, a arte de Yoko incita à liberação, mas parece presa a uma fórmula discursiva, não tem responsabilidade formal.   Ela explora pintura, escultura, desenho, instalação e performance (e música popular). No grande átrio do CCBB, uma cascata de cordas brancas vem de uma roldana no terceiro andar e vai se abrindo até ser presa no chão. Em Ceiling Painting (1966), uma sala guarda uma escada de pintor de paredes e, no teto, uma lupa e um quadrado pendem do teto, pendurados.   E os Beatles. Os Beatles são a maldição e a bênção de Yoko. Ela será sempre a viúva de Lennon, quer queiram quer não. Esse é o paradoxo subjacente à sua presença: sem o carimbo Lennon, que tipo de curiosidade despertaria seu trabalho, cuja noção de "obra aberta" parece presa a certo período histórico?   "Eu era artista antes de John, fui artista durante os anos que vivemos juntos e sou artista agora", ela disse, em 1998, na primeira vez que veio ao Brasil.   Yoko detesta perguntas demais sobre os Beatles. Mas sua vida está irremediavelmente atada ao destino da banda (tanto é que até o presidente do fã-clube dos Beatles, Marco Antonio Malagolli, estava lá ontem na coletiva). Yoko usava chapéu laranja e blusa e calça pretas. Como John ensinou, ela usa a celebridade como trunfo pessoal.   E quando foi exatamente que Yoko acabou com os Beatles? No livro Beatles Antologia, a biografia da banda, fica claro que o casal se sobrepõe à união do quarteto após a gravação de The Ballad of John and Yoko, em 1969. George Martin considera que essa gravação é o ponto em que John deixa de ser um beatle e passa a ser apenas Lennon. Os outros beatles concordaram. "Eu não liguei por não ter sido convidado para o casamento e não liguei por não estar na gravação, porque não era da minha conta. Se fosse The Ballad of John, George and Yoko, então eu estaria nela", ironizou George Harrison.     Yoko Ono - Uma Retrospectiva. Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado 112, Centro, São Paulo. De 10 de novembro a 3 de fevereiro de 2008. Terça-feira a domingo, das 9 horas às 20 horas. Entrada franca. Mais informações pelo telefone: (11) 3113-3651/3652

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.