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X-Men de volta às origens

'Primeira Classe' eleva filmes de heróis a um patamar que poucos alcançam

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Matthew Vaughn já havia sido sondado para realizar o terceiro filme da série X-Men, mas na época ele se sentiu intimidado pelo tamanho da produção e declinou. Vaughn assina agora X-Men - Primeira Classe, a prequel (origem) do primeiro filme realizado por Bryan Singer, mostrando como surgiram os personagens emblemáticos. Valeu a espera. Você poderá até se manter fiel aos filmes de Singer, o 1 e o 2, mas X-Men - Primeira Classe é muito bom e eleva os filmes de super-heróis a um patamar que poucos diretores alcançam - Christopher Nolan, de Batman, com certeza.O que faz a força do filme é o fato de que Vaughn não tenta minimizar o aspecto lúdico da aventura. Os filmes de super-heróis têm de ter ação, efeitos, humor. O cineasta sabe disso - e satisfaz a expectativa do público -, mas ele também arma um conflito que torna os personagens mais complexos. Primeira Classe começa contando em paralelo as histórias do futuro X e de Magneto. Começa pelo segundo, em plena 2.ª Guerra, quando o garoto judeu, Erik Lehnsherr, é separado da mãe no campo de concentração.Sua raiva (desespero?) desencadeia uma manifestação de superpoder, flagrada pelo cientista nazi. O cara, um monstro que tenta vender a imagem de anjo para conseguir a cumplicidade do menino, termina por revelar-se como é. Recorrendo às chaves de Freud, Vaughn faz do futuro Magneto um Édipo que vai tentar superar seu complexo caçando o nazista brutal. Corte para Nova York, onde outro Édipo faz a descoberta da garota mutante, que, num primeiro momento, assume a forma de sua mãe ausente. Será a carência das mães que vai aproximar Charles Xavier e Erik?Na evolução dramática de Primeira Classe, o nazista, não propriamente aliado, mas manipulando os comunistas, leva o mundo à beira do confronto nuclear, na crise dos mísseis de Cuba, em 1962. O background político não apenas existe, como é intencional. Matthew Vaughn tem sido prudente nas declarações. Ele espera o resultado de Primeira Classe nas bilheterias para saber se haverá uma Segunda Classe. Se houver, já anunciou que o racismo, o aspecto branco/negro da questão racial, será decisivo na trama. Afinal, é fato que os X-Men foram baseados em Martin Luther King e Malcolm X. Como já havia subtexto político suficiente em Primeira Classe, Vaughn deixou para a Segunda o movimento dos afro-americanos por direitos civis. Também não queria dar a impressão de estar atrelando seu filme à Casa Branca (e a Barack Obama).Como prequel, X-Men - Primeira Classe mostra como Charles Xavier e Erik Lehnsherr, que depois vai virar Magneto, se unem para enfrentar o vilão nazista (Kevin Bacon). Boa parte do filme trata do recrutamento dos mutantes que vão se integrar ao grupo. Uma cena particularmente destinada a fazer sensação dura menos de um minuto (30? 40 segundos?) e mostra Xavier e Erik recebendo um chega-para-lá do futuro Wolverine. Hugh Jackman entra em cena apenas para... Veja o filme para desfrutar da piada. É ótima. Por mais divertidos que sejam esses momentos isolados - e outros -, Primeira Classe constrói-se na oposição entre Charles Xavier e Erik.O próprio Erik só desenvolve seu potencial quando Xavier lhe ensina a controlar suas pulsões. Ambos representam antinomias. O ying e o yang, Eros e Tânatos, o equilíbrio e a agressividade. Os demais personagens vão se alinhando ao redor e, no final, a ruptura, tomam partido - uns seguindo Xavier e virando os X-Men, outros associando-se a Erik e criando a turma de Magneto. Esse desfecho é muito intenso, mostrando como Xavier, interpretado por James McAvoy - Michael Fassbender faz Erik/Magneto -, foi parar na cadeira de rodas. Há aí um verdadeiro clima de tragédia. A angústia de Erik lançando-se sobre o amigo; a amizade destruída; e até a impossibilidade física da concretização do desejo de Xavier pela agente da CIA. Christopher Nolan, mais do que qualquer outro diretor, já havia mostrado como o gênero "super-heróis" pode ser adulto. Sofisticado, também. A moda é um dos elementos de que se vale o cineasta. Mas isso você vai conferir lendo o texto abaixo.

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