Whitney Museum abre ?2000 Biennial Exhibition?

A exposição bienal que apresenta o que há de mais novo e importante na arte americana abre espaço para a arte na Internet

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Por Agencia Estado
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A exposição bienal do Whitney Museum, em Nova York, criada há 68 anos para apresentar o que há de mais novo e importante na arte americana, traz este ano como principal novidade o reconhecimento da arte feita na Internet como uma forma de arte, a Internet art. Dos 97 trabalhos apresentados na 2000 Biennial Exhibition, nove são projetos produzidos para a Internet. A exposição também pode ser percorrida via Internet pelo site do museu no endereço www.whitney.org. Esta é primeira vez que uma nova mídia é introduzida na bienal desde a inclusão do vídeo, em 1975. A exposição que o museu apresenta este ano deixa transparecer os percalços enfrentados para produzí-la. Com a saída de vários curadores logo depois de sua admissão, no final de 1998, o diretor Maxwell Anderson optou por liderar um time de seis curadores de outras instituições como alternativa para a escolha dos artistas participantes. Dos 97 artistas, 22 nasceram em outros países e escolheram os Estados Unidos para exercer sua arte, incluindo-se entre eles o fotógrafo brasileiro Vik Muniz, que vive em Nova York há cerca de 20 anos. "Isso atesta a grande atração que o país tem sobre artistas do mundo todo e a bienal reflete essa crescente internacionalização", diz o diretor do Whitney. "É muito bom ser reconhecido pelo trabalho que tenho feito neste país", diz Vik Muniz. Ele já expõe em galerias e museus de todo o mundo e vai ter sua primeira retrospectiva no Brasil em setembro, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. "Essas exposições são muito importantes para mim porque confirmam algo que, por muitos anos, tristemente pensei não existir: uma identidade americana ou brasileira dentro do meu trabalho", completa o fotógrafo. Pouca polêmica A bienal com que o Whitney fecha o século 20 nem merece o slogan de "a mostra que todo mundo gosta de odiar", ganho em anos anteriores por apresentar, tradicionalmente, obras de valor discutível ou controversas. Criou-se apenas uma polêmica rápida e sem grandes conseqüências antes da sua abertura - o que levou muita gente a pensar que tudo não passou de um golpe publicitário. A causa foi a instalação Sanitation, resposta do alemão Hans Haacke à censura que o prefeito da cidade, Rudolph Giuliani, tentou impor à exposição Sensation, apresentada pelo Brooklyn Museum no ano passado. Haacke, de 64 anos, é bem conhecido em exposições internacionais por trabalhos críticos e conceituais que aludem ao 3.º Reich. Numa sala semiescura, o artista colocou no chão uma moldura com textos sobre a liberdade de expressão, enfileirou 12 carrinhos de lixo emitindo o som de tropas marchando. Na parede, colocou três bandeiras americanas de tamanhos diferentes ao lado de frases contra manifestações artísticas ditas por Giuliani e os conservadores Jesse Helms, Pat Buchanan e Pat Robertson. O detalhe provocativo foi o tipo de letra: o gótico fraktur, preferido pelos nazistas. Sanitation foi criticada pela Anti-Defamation League como uma obra que trivializa o holocausto. A mesma opinião foi expressada pelo prefeito Giuliani e por Marylou Whitney, nora da fundadora do museu, Gertrude Vanderbilt Whitney. Marylou deixou o conselho do museu e suspendeu sua doação anual, de US$ 5 mil (o Whitney tem um orçamento anual de US$ 20 milhões). Mas a neta e a bisneta de Gertrude, Flora Miller Biddle e Fiona Donovan, que também pertencem ao conselho, apoiaram a decisão de manter Sanitation na bienal. Haacke está entre os poucos artistas da 2000 Biennial Exhibition que já são reconhecidos há longo tempo. Além dele, estão o escultor americano Richard Tuttle, de 59 anos, e o fotógrafo inglês John Coplans, de 80. A maioria dos participantes é formada por artistas na faixa dos 30 e 40 anos, alguns já com carreira desenvolvida, mas muitos que ainda não têm galerias para representá-los. Estímulo Os trabalhos escolhidos para a bienal ocupam quatro dos cinco andares do Whitney. O último ficou reservado a obras selecionadas do acervo do museu, criado em 1931 para exibir exclusivamente arte americana contemporânea. Ali são vistos os hoje célebres Edward Hopper, Stuart Davis e Reginald Marsh, por exemplo, que exibiram seus primeiros trabalhos no Whitney. A seleção parece servir de estímulo aos novos artistas. Outro incentivo é o Bucksbaum Award, prêmio de US$ 100 mil que vai ser concedido pelo Whitney a um dos emergentes. Todas as mídias estão representadas na 2000 Biennial Exhibition. Na pintura, sobressaem-se o mexicano Salomón Huerta, de 35 anos, e os americanos Kurt Kauper, de 34, e Lisa Yuskavage, de 38. Na série Untitled Head, Huerta pinta retratos sem traços de identificação. Em Diva Fiction, Kauper cria personagens femininas de ópera hiperrealistas e Lisa distorce a figura da mulher sexy nas imensas telas de True Blonde at Home. Na fotografia, o brasileiro Vik Muniz, de 39 anos, destaca-se pela técnica e conceito. Sua obra O Naufrágio do Medusa, de 1999, faz parte da série Imagens de Chocolate, que o fotógrafo começou em 1997 e já foi vista tanto na 24.ª Bienal de São Paulo como nas retrospectivas que o artista ganhou, nos últimos dois anos, em Nova York, em Paris e no Japão. Como todas as fotos da série, esta também é baseada numa imagem criada por outro artista. Desta vez é a tela do francês Théodore Géricault (1791-1824), Le Radeau de la Méduse, que pertence ao Museu do Louvre, foi pintada em 1819 e representa sobreviventes do naufrágio do barco Medusa, ocorrido na costa da África em 1816. Muniz refaz a pintura num desenho traçado rapidamente sobre uma caixa de luz com uma agulha e calda de chocolate, fotografando antes que seque. Com isso, desafia a percepção do observador sobre o que constitui um trabalho de arte original e se a fotografia representa a verdade. Entre as esculturas, chamam atenção as obras surrealistas de Robert Gober, de 46 anos, que é um dos mais conhecidos artistas americanos surgidos entre as décadas de 80 e 90. Ele expõe grandes pias que têm no lugar de torneiras longas e peludas pernas humanas feitas de cera. O americano Kim Dingle, de 49 anos, provoca o riso com 63MGME, de 1999. Com rendas nas calotas e pintado de cor-de-rosa, o MG Midget 1963 modificado pelo artista lembra o veículo usado por Penélope Charmosa. Novidades Os filmes e vídeos selecionados fundem vários formatos, desde animação, 35 milímetros, disc laser e até clipes pirateados da TV. Eles foram agrupados em cinco programas temáticos. Em Obsessions, os autores abordam suas fixações particulares ou a de outras pessoas. Transforming Personae focaliza a luta contra o preconceito cultural. Wars of Our Time explora conseqüências pouco discutidas da guerra. American Life focaliza a variedade dos valores e identidades americanos e Re-Thinking Documentary inclui trabalhos que remodelam o gênero documentário. Nesse último tema entrou o filme Teatro Amazonas, feito em 1999 pela americana Sharon Lockhart, de 36 anos. Do palco do Teatro Amazonas, em Manaus, ela filmou os rostos e reações da platéia durante a apresentação de uma missa coral. Sem discutir a qualidade ou o conteúdo da mostra, Maxwell Anderson prefere salientar as novidades que introduziu na bienal do Whitney. Além da arte na Internet e os curadores que não pertencem ao quadro do museu, "pela primeira vez o audioguia da exposição tem a voz dos artistas descrevendo suas obras e processos criativos e os 27 trabalhos em filme e vídeo são exibidos simultaneamente em instituições culturais de diversas cidades americanas", apregoa o diretor. A 2000 Biennial Exhibition fica em cartaz no Whitney até 4 de junho.

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