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Waltércio Caldas ganha retrospectiva no CCBB

Por Agencia Estado
Atualização:

Waltércio Caldas, um dos mais respeitados artistas brasileiros contemporâneos, inaugura nesta segunda-feira à noite no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) do Rio sua primeira retrospectiva. E mesmo assim trata-se de um panorama parcial, já que foram contemplados apenas 15 de seus 34 anos de carreira. Com curadoria de Ligia Canongia, a mostra reúne 55 obras, realizadas desde 1985 - ano em que o artista retorna de uma temporada de um ano em Nova York, decidido a instalar-se definitivamente no País -, algumas das quais são inéditas. Entre os trabalhos nunca mostrados antes no País está Giotto Sussurrando, de 1998, uma estrutura em aço e acrílico azul, que pertence a uma linha de trabalho semelhante à obra que o artista apresentou na Bienal de Veneza. Evidentemente, nessa seleção, predominam as esculturas, a linguagem por excelência do artista. Mesmo no desenho, sua ação se dá no espaço, como se o limite bidimensional do papel não importasse. Isso explica também o fascínio do artista - que costuma recorrer à história da arte e do pensamento como elemento inspirador - por Velázquez, que recriou a espacialidade na tela, conseguindo produzir volumes de matéria usando uma superfície opaca e plana. Um de seus vários livros de artista, que devem estar numa mostra na Pinacoteca em novembro, é sobre o mestre espanhol. Como resume a curadora, "Waltércio quer dar a ver o invisível: a fluência entre as matérias, a reciprocidade entre os corpos e o vazio, a luz, o trajeto, as distâncias (...)". Esse é elemento central na obra de Waltércio, que dá à sua produção uma coerência inesperada para quem abertamente diz procurar partir sempre do zero a cada trabalho e que explora com a mesma ânsia criativa os mais diversos materiais e técnicas. "É como se os trabalhos estivessem invisivelmente ligados uns aos outros", reconhece o artista, que está tirando grande partido dessa retrospectiva para explorar aproximações e oposições entre suas obras. Ocupando-se cuidadosamente da montagem, ele tem procurado estabelecer diálogos poéticos, ampliando repertórios e estendendo ao máximo a tensão desse fio invisível. "As peças se potencializam a ponto de formar um terceiro trabalho. É como fazer composição musical, você não escolhe apenas as notas, mas também os intervalos." Aliando uma perpétua necessidade de renovação a uma forte marca pessoal, que se faz sentir em todos os seus trabalhos, Caldas foi presença marcante na história da arte brasileira das últimas três décadas, já tendo representado o País na Documenta de Kassel (1992) e na Bienal de Veneza (1997). Normalmente identificado com a arte conceitual, o artista faz questão de pontuar que definições como essas escondem uma série de equívocos, principalmente num país como o nosso, em que as pessoas esquecem facilmente ou não entendem o que vêem. Mesmo admitindo ser profundamente devedor dos movimentos surgidos nas décadas de 60 - como o minimalismo e a arte povera -, que buscaram recuperar a concepção mental e menos frívola da arte, que defendiam a autonomia do objeto e da atitude artística, ele faz questão de afirmar que outras questões, como a matéria, são tão ou mais essenciais em seu trabalho quanto o conceito. Outro aspecto que julga essencial para a formação de seu pensamento artístico é a vocação construtiva brasileira. "Criei-me vendo maquetes de Brasília", lembra ele. Além da exposição, que provavelmente vem a São Paulo em 2002, também está sendo editado um alentado catálogo sobre o mesmo período retratado pela exposição. Em breve, a editora Cosac & Naify lançará um livro sobre o artista, que promete ser o mais completo sobre sua obra até o momento.

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