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Walter Salles recorda Kurosawa

Por Roberta Pennafort
Atualização:

/ RIOAos 27 anos, quando fazer cinema lhe parecia uma utopia, Walter Salles teve a oportunidade de estar perto de um de seus diretores preferidos, e de lhe perguntar o que todo fã adoraria saber: qual é o papel de sua arte, o que seria dele sem ela, quais foram suas intenções com este ou aquele trabalho. A entrevista com o diretor japonês Akira Kurosawa (1910-1998), feita para um programa de TV da extinta Manchete, foi em 1985, mas até hoje Salles se recorda da ansiedade antes de partir para as cercanias do Monte Fuji, onde vivia o diretor de Rashomon (1950), Os Sete Samurais (1954), Dersu Uzala (1975) e Ran (1985), alguns dos filmes que mais haviam marcado sua vida até então.O resultado da aventura, o documentário Kurosawa, Pintor de Imagens, foi exibido no sábado, na mostra em homenagem ao centenário de Kurosawa no Instituto Moreira Salles do Rio, que termina amanhã. "Fomos para o Japão sem ter o endereço do Kurosawa. No caminho, eu pensava na frase do (cineasta americano Francis Ford) Coppola, que diz que um grande diretor tem duas obras-primas, enquanto Kurosawa tem oito", contou Salles ao público na conversa que se seguiu à exibição do filme. De suéter rosa pink e óculos de lentes, o Imperador, como era chamado em seu país, falou sobre a importância de se ter paciência à espera da melhor luz natural (durante as filmagens de Ran, foram semanas aguardando a tonalidade de pôr-do-sol desejada para uma sequência), as dificuldades financeiras que enfrentou para rodar suas grandes produções, o respeito pela arte cinematográfica. "A beleza do cinema é o que toca o coração dos homens do mundo inteiro. É para isso que eu vivo", declarou Kurosawa, cuja busca pela imagem perfeita o fazia desenhar dezenas de cenas antes de filmá-las (seu sonho de juventude era ser pintor).O IMS foi criado pela família Salles, mas a retrospectiva não foi iniciativa sua. Poderia ter sido: como muitos cineastas brasileiros, de diferentes gerações (Domingos Oliveira, Cacá Diegues, Luiz Fernando Carvalho), ele é apaixonado pelo cinema do sensei (mestre) japonês. "Os filmes de Kurosawa têm a rara qualidade de cada plano abarcar o filme como um todo. Cada cena é grávida da anterior e engravida a seguinte."

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