Walmor Chagas reúne poesia e música em "Lua e Conhaque"

Somente agora, aos 71 anos de idade e com 51 deles dedicados ao teatro, Walmor Chagas sobe ao palco com Clara, sua filha com Cacilda Becker. Ela canta e ele declama em Lua e Conhaque, a partir de sexta no Sesc Anchieta

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Por Agencia Estado
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A cumplicidade está na troca de olhares e o entrosamento nas palavras - depois de um longo período em que suas carreiras se entrecruzaram em apenas alguns momentos, o ator Walmor Chagas e a cantora Clara Becker, pai e filha, comandam juntos, a partir de amanhã, um passeio pela poesia, em poemas e canções, de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes. O espetáculo chama-se Lua e Conhaque e estréia amanhã para convidados, iniciando temporada para o público a partir de sexta-feira, no Teatro do Sesc Consolação. O ator interpreta um personagem sem nome que, ao entrar em um bar onde uma cantora se apresenta ao lado de um quarteto, inspira-se em sua bela voz e começa a interpretar poemas daqueles autores. Não se trata de uma peça tradicional, nem de um show convencional, mas um espetáculo único, que une a presença marcante da música de um com o fio de dramaturgia do outro. "A combinação resulta em uma espécie de teatro de bolso musical e intimista", comenta Clara, de 39 anos, que canta acompanhada de quatro músicos. "As canções têm o mesmo valor dramático do texto." O trabalho de pesquisa contou com o auxílio do jornalista Roberto Benevides, profundo conhecedor da obra dos três poetas e responsável pela escritura do roteiro final. "A escolha de Drummond, Bandeira e Vinícius aconteceu porque eles não só figuram entre os melhores do Brasil como também têm muitos pontos em comum, como a musicalidade das palavras e o amor pelo Rio de Janeiro, cidade que surge como personagem de seus poemas", explica Benevides. Walmor, aliás, explica que não vai simplesmente declamar mas interpretar cada um dos autores, buscando as pequenas diferenças de dicção, as vozes e emoções distintas. "Como Drummond era mineiro e Bandeira, pernambucano, há vários momentos em que eles declamam seu amor e sua saudade pela terra natal." Clara também não se posicionará como atriz, mas estará no palco como cantora. Além de canções conhecidas, especialmente as de autoria de Vinícius de Moraes, ela vai surpreender com a apresentação de poemas que foram musicados por Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos, Capiba, Garoto, Tom Jobim e Chico Buarque, entre outros, um trabalho que estava praticamente esquecido. "Fizemos uma intensa pesquisa em sebos e com colecionadores atrás das partituras", conta Clara, que conta com a direção musical de Leandro Braga. Assim, será possível escutar o poema Desencanto, de Bandeira, sob a música de Radamés Gnatalli, ou Gente Humilde de Drummond, com música de Garoto e Chico Buarque. A poesia, aliás, inspirou o próprio título do espetáculo, retirado dos versos finais do Poema de Sete Faces, de Drummond: "Eu não devia te dizer/ mas essa lua/ mas esse conhaque/ botam a gente comovido como o diabo." "Esse projeto vem sendo acalentado há mais de dez anos e só realizamos agora porque Clara já se sente à vontade para subir no palco junto comigo", comenta Walmor que, aos 71 anos, acumula 51 de carreira e 40 peças de teatro, diversos filmes no cinema e cerca de 20 participações em telenovelas, séries e minisséries. A afirmação de Clara como cantora foi fundamental. Filha de Cacilda Becker, uma das maiores atrizes brasileiras e que morreu quando ela tinha apenas 5 anos, Clara chegou a seguir alguns passos da carreira dos pais, trabalhando com Walmor no Teatro Ziembinski, montado por ele, no Rio de Janeiro. "A proposta já era a de levar textos de grandes poetas e escritores para o palco e eu participava do grupo de atores", lembra ela, que logo descobriu seu desconforto em atuar. Passou, então, a trabalhar como iluminadora e sonoplasta. Em seguida, desligou-se do teatro e atuou em produção de cinema e trabalhou na área de edição da Rede Globo. "Depois de tantas etapas, tive a certeza de que queria seguir a carreira de cantora", comenta Clara, que teve aulas de canto, teoria musical e violão a fim de modular sua voz suave. Depois de algumas apresentações no Rio de Janeiro, ela iniciou carreira em 2000, com o show Falando de Amor. No ano passado, já com a aproximação do pai, que assumiu a direção, ela se apresentou no bar Supremo. Lua e Conhaque consolida, assim, não apenas sua carreira como cantora, mas também a terna parceria com o pai. O espetáculo tem pretensões de viajar para outras cidades, mas depende ainda de patrocínios. "Queremos fazer apresentações sempre a preços acessíveis", conta Walmor Chagas que, para a temporada que se inicia amanhã, investiu do próprio bolso a quantia necessária para a produção (R$ 150 mil). Com a excursão, o ator espera oferecer uma ode à cidadania. "O tom principal dos poemas é uma declaração de amor às cidades onde vivemos." Além de Walmor e Clara, estão em cena os músicos Amador Longhini Jr. (piano), Rudney Cezar Arnaut (violão), Adriana Holtz e Angelique Camargo (cello) e Ovanir Buosi (clarineta). Walmor ainda dirige o espetáculo, ao lado de Clemente Portella. Lua e Conhaque - Teatro Anchieta no Sesc Consolação: Rua Doutor Vila Nova, 245. Tel: 3256-2281. Sextas e sábados às 21h; domingos, às 20h. R$ 20,00 e R$ 10,00 (estudantes). Até 31/3

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