Volta à Política

Festival de documentários revela que interesse pela história cresceu após o 11 de setembro

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Qual a relação de um filme com a realidade? A pergunta está sempre presente a cada vez que imagens em movimento são projetadas sobre uma tela. E a questão se torna mais urgente, em particular, se essa obra se intitula um "documentário". Queremos sempre saber se, em que medida, essas imagens dizem a "verdade" sobre o "real". Por isso o tema estará em discussão ao longo desse que é o mais importante festival de documentários do País, o É Tudo Verdade, criado e dirigido pelo jornalista Amir Labaki, que começa hoje. O festival, em sua 16.ª edição, tem seu título inspirado no filme incompleto realizado por Orson Welles no Brasil. Na abertura, a exibição de The Black Power Mixtape, de Göran Hugo Olsson, sobre o movimento ativista negro nos Estados Unidos, no fim da década de 1960, começo dos 70. Início estupendo, sem dúvida, mas apenas um aperitivo para o cardápio completo, que terá um total de 92 documentários vindos de 29 países diferentes. Entre eles, 18 brasileiros inéditos, prova de que o gênero se encontra em grande fase no País. Como não se perder em meio à maratona? Amir acha que é melhor não opinar nem eleger favoritos: "Todos esses títulos selecionados representam apenas 5% dos que se inscreveram; é um universo muito amplo, de modo que dar dicas seria um pouco como fazer a escolha de Sofia". Para quem não se lembra do filme A Escolha de Sofia, de Alan Pakula, nele a personagem de Meryl Streep se vê obrigada a escolher entre dois filhos queridos, para salvar um e sacrificar o outro. Um dilema terrível, como o que acomete o diretor de um festival quando convidado a optar entre filmes selecionados. Se Amir, compreensivelmente, prefere não citar títulos favoritos, não se nega a discutir uma espécie de linha geral que passa entre os filmes que serão apresentados este ano: "A novíssima safra me parece marcada por essa ênfase em captar sob a ótica privada as principais questões públicas, como o movimento pela democratização no Irã (A Onda Verde) e o fortalecimento do engajamento religioso (Posição Entre as Estrelas), para ficar em apenas dois exemplos. É como se houvesse agora uma síntese dialética entre a tendência intimista que era marcante na década de 1990 e a retomada social e política que se seguiu ao 11 de setembro".Quer dizer: os cineastas voltaram a ter consciência de que não adianta as pessoas não se interessarem pela política, porque a política sempre se interessa por elas. Não é pouca coisa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.