PUBLICIDADE

Vogue Paris, fim da era Carine Roitfeld

Por Cynthia Garcia
Atualização:

O que há de mais quente na nova temporada de desfiles não são as coleções. É o que rolou na Faubourg-Saint-Honoré, mais precisamente na redação da Vogue Paris. Carine Roitfeld, a editora-chefe que a moda pediu a Deus, pediu demissão no dia 17 de dezembro da revista que ela transformou em dez anos de uma publicação burguesa à bíblia da moda conceitual. Apesar de rolar que teria sido dispensada, a data ficará cravada como a.C. e d.C., antes de Carine, depois de Carine. Antes dela quem revolucionou o conceito da revista de moda fora o diretor de arte, Neville Brody, na The Face da fase de 1981 a 1986, e a mítica Diana Vreeland, editora-chefe da Vogue América de 1963 a 1971. O Grupo Condé Nast, dono do título, optou pelo seguro ao oficializar no cargo a stylist Emmanuelle Alt, editora de moda da Vogue Paris e braço direito de CR. Alt trabalha no think-tank que transformou a revista no que é hoje. Nesses dez anos, a dupla CR e Alt fez a festa dos fotógrafos, que registraram tudo do estilo parisiense contemporâneo chic de Carine com olhos borrados, tipo "voltei da balada" , em contraste com o look no-make-up roqueiro de Emmanuelle, que adora jeans, couro, bota, calça comprida Helmut Lang, t-shirt APC, soutien Gossard, Balenciaga, Manolo Blahnik, relógio Air King da Rolex e diz que usar Havaianas preta é sexy. A queda ou substituição de Carine, chamada por uns de narine (narina), deve ter deliciado a dama de ferro Anna Wintour, editora-chefe da Vogue América. As duas jamais rezaram na mesma cartilha. Fala-se que CR estaria insatisfeita com seu salário comparado aos US$ 2 milhões anuais da rival. Com a midiática francesa, a Vogue Paris pulou de 100 mil exemplares/mês para 140 mil de tiragem, fichinha se comparado à cifra de 1.2 milhão de exemplares/mês da edição americana sob a batuta da inglesa que usa penteado ao estilo playmobil. Durante o reinado de CR a maior pisada na bola envolveu Bernard Arnault, presidente do conglomerado de luxo LVMH. Ele teria telefonado a Jonathan Newhouse, presidente da Condé Nast, informando estar prestes a retirar os anúncios de suas grifes da edição seguinte porque CR estaria pondo poucas peças de seu leque de marcas nos editoriais e por não concordar com as ousadias estilísticas da moça. Goste ou não o tal monsieur, as edições temáticas com Penelope Cruz, Scarlet Johansson, Sofia Coppola e Tom Ford cunharam um mix de arte e transgressão que decretou a nova ordem no design gráfico e no styling. CR e Alt transformaram os editoriais em apoteoses do trash-glamour, versão extremada do high & low (o barato com o caro). No centro da entourage quatro sul americanos brilharam: as tops brasileiras Raquel Zimmermann, Gisele e Isabeli Fontana, e o fotógrafo colombiano Mario Testino. Antes do convite que a entronou na Vogue Paris, Renato Kherlakian, no auge da Zoomp, convidou o trio Carine-Testino-Gisele para a campanha da coleção Inverno 2000 da marca, exposta em outdoors Brasil a fora. Emmanuelle Alt sobe ao posto hoje. Mas a primeira edição sem o toque de sua mentora só aterrissa nas bancas em abril. Agora é aguardar o que a cria de Carine fará na Vogue Paris e o que la Roitfeld irá aprontar. Trabalhará com o amigo Tom Ford? Com o Grupo Gucci? Com o marido? Quem sabe até na LVMH? Substituirá Glenda Bailey na Harper"s Bazaar? Quem quer o talento da musa Carine Roitfeld?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.