Viviane Mosé simplifica filosofia na TV

Ela utiliza exemplos da vida real para ilustrar a teoria de filósofos consagrados em novo quadro do Fantástico, programa da Rede Globo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O Fantástico agora conta com dois doutores no programa. Enquanto Drauzio Varella fala sobre as mazelas do corpo, a filósofa Viviane Mosé analisa os males da alma. E, apesar de adentrar um terreno meio impenetrável ao cidadão comum, a resposta da audiência tem surpreendido. A ponto de Viviane cruzar com uma senhorinha no interior do Maranhão que declarou ter abandonado as missas aos domingos para assistir ao quadro Ser ou Não Ser, apresentado em julho de 2005, em 15 episódios no Fantástico. O novo bloco, com quatro programetes inéditos, teve sua reetréia no último domingo, com duração de 9 minutos, e novo formato. Utiliza exemplos da vida real para ilustrar a teoria de filósofos consagrados. O tema do dia vem sob medida depois da semana em que São Paulo foi vítima dos ataques do PCC: fala de exclusão e de como a sociedade lida com os excluídos, ilustrando a obra do francês Michel Foucault. Como falar da questão do ser quando as pessoas estão mais preocupadas em sobreviver? A ausência de chão leva ao pensamento. É por isso que a violência provoca uma onda de filosofia. Estamos diante de uma violência sem rosto, como a que São Paulo sofreu. O primeiro episódio fala de exclusão que provoca esse tipo de coisa, mas usando como exemplo os leprosários da década de 60. Essa idéia de dividir o mundo em dois, que é o que também acontece com as prisões, só faz aumentar o número de marginalizados. Em um dos programas, entrevistei uma mulher na fila de visitas aos presos. Ela me contou que o marido está preso desde 1982, por ter passado cheque sem fundo, sem julgamento. O que é essa cadeia? Nosso preconceito enterrou o mundo lá e criou uma escola do crime. É difícil fazer a transição do pensamento acadêmico para TV. Como a TV surgiu na sua vida? Na década de 90, saiu um poema meu na capa de um jornal, sempre fui poeta, escrevia muito. Meu primeiro grupo de estudos, interessado em aprender filosofia, era formado por atores. Eles me procuraram porque eu declamava poemas no palco. Com isso, as companhias de teatro começaram a se interessar pelo meu trabalho. Sempre com a preocupação de traduzir a filosofia. Você assiste à TV? Qual sua opinião como veículo de comunicação? Assisto, gosto de televisão, do programa Provocações da TV Cultura, das novelas do Manoel Carlos. Meu apelido na escola era Malu Mulher. Não aceito essa idéia de que a mídia é o mal, isso é completamente maniqueísta. Se o entretenimento é vendido como arte, aí é um problema. Mas se é vendido como entretenimento é ético. Ver TV é uma banalidade no melhor estilo, que distrai. É possível ser da TV sem virar celebridade? Quem quer ser celebridade vai ser celebridade até na favela. Isso não é fenômeno de TV, é um jogo de supervalorização do ego, que leva ao delírio de si mesmo, mas isso é um outro assunto longo. Quando se entende que isso é um mercado, tudo fica claro. No meu programa, eu e meu marido, que é roteirista, construímos um modelo em que eu aparecesse pouco e como intelectual. Minha imagem vai ao ar no máximo por 40 segundos. Como seus colegas acadêmicos vêem essa experiência? Eu procurei não envolver ninguém na TV, mas tive uma ótima resposta. Tenho colegas que me citam nas salas de aula, nunca fui tão chamada para dar palestras sobre Nietzsche como agora. (Viviane publicou em 2005 sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem). O que você pensa da filosofia de botequim que é feita na TV em alguns programas? Se é uma brincadeira, esse exercício do botequim é um bom exercício. O problema é q ue tem muita filosofia de botequim que vira livro (risos). Nietzsche, por exemplo, é uma obra muito difícil. As famosas adoram Humano Demasiado Humano. É um livro difícil da obra dele, se não for acompanhado de um professor. Ler assim, sozinho, acaba sendo uma leitura de conclusões próprias, mas que pode não refletir a real interpretação do livro. Para se iniciar no filósofo, eu recomendo a leitura de Crepúsculo dos Ídolos e Ecce Homo. Filosofia de botequim: "O botequim é um bom exercício, o problema é quando resolvem transformá-lo em livro... "

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.