Visões de Grimes

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

O pop da artista, cantora e diretora canadense Claire Boucher, conhecida como Grimes, se situa entre o sedutor e o efêmero. Grimes canta fino em canções feitas com pouco: não mais que uma batida e um riff de sintetizador são necessários para que ela arquitete um hit como Genesis, segunda faixa de seu novo disco Visions, que acaba de ser lançado no Brasil pelo selo carioca LAB 344.Por todo hype que Visions carrega como um disco viciante de electropop, é curioso que sua sequência de faixas demore para aquecer. Genesis, por exemplo, cria um ambiente com a primeira parte do disco. A voz de Grimes é distante e o restante das batidas funciona como um alicerce, para que os falsetes não saiam voando, como um balão perdido. Embora não seja imediatista, é uma estratégia de efeitos certeiros. Lá pela sexta faixa, Visions começa a exercer seu fascínio, e suas melodias contagiantes tornam-se mais claras. Ouça a excelente Vowels = Space and Time, uma pepita de synthpop a la Cindy Lauper, com um sedutor trecho melódico após o outro. Grimes já disse que, por ser uma filha da era da internet, suas influências vêm de todos os lados. Encontram, aqui, uma fórmula pop afinadíssima.GRIMESCHRISTINA PLUHAR LOS PÁJAROS PERDIDOS Gravadora: VirginPreço médio: US$ 9 ÓTIMO Christina Pluhar (foto)é uma instrumentista austríaca nascida em Graz que se profissionalizou tocando teorba, guitarra e harpa barrocas e alaúde. Tem 47 anos. Aos 35, fundou em Paris o grupo de música antiga L'Arpeggiata, depois de integrar grupos respeitadíssimos como o Concerto Köln. Desde o início, o grupo, que recebe convidados a cada novo projeto/gravação, atravessa fronteiras, desrespeita rótulos. Foi assim com Monteverdi, quando Christina colocou o contratenor Philippe Jaroussky solando sob um "walking bass" tipicamente jazzístico e uma discreta percussão. A mais recente - e atrevida - aventura do grupo é este Los Pájaros Perdidos, dedicado à música folclórica sul-americana. Jaroussky canta em cinco das vinte canções, incluindo uma antológica interpretação da canção argentina Duerme Negrito. O catalão Jordí Savall e seus grupos de música antiga, com a incrível voz de Montserrat Figueras, também fazem repertórios semelhantes. Mas aqui o olhar não é o do etnomusicólogo que se debruça sobre a música folclórica - tem a pegada, o suingue popular de fato. Christina mudou de ramo, literalmente. L'Arpeggiata, ao menos neste CD - que é ótimo -, é um grupo populaR. / JOÃO MARCOS COELHOERIC MILNESOS NOVOSBRANDENBURGUESES Gravadora: Atma, US$ 9 EXCELENTEBach cansou de fazer copy/paste com pedaços de suas obras anteriores para conseguir compor uma cantata por semana por anos seguidos na Leipzig de 1730. Pois Bruce Haynes, oboísta, musicólogo e emérito campeão da música historicamente informada, deixou como seu principal legado sonoro (morreu em maio de 2011, aos 69 anos) seis "novos" Concertos de Brandenburgo, numerados de 7 a 12, feitos no mesmo espírito corte-e-costura de Bach. Juntou árias de cantatas, desenvolveu-as com instrumentações variadas, semelhantes às da primeira meia dúzia, assinada pelo mestre. O melhor de Haynes é que, apesar de pesquisador rigoroso, não levou a sério a empreitada. Colocou sua "reconstrução" no mesmo patamar das aventuras bachianas do grupo vocal Swingle Singers ou mesmo do pioneiro Wendy Carlos e seu Switched-on-Bach de 1968 (quando ainda se chamava Walter Carlos, antes de trocar de sexo). Age como diz que o próprio Bach fez centenas de vezes no seu dia a dia. E assegura que devem ter se perdido dezenas de outros concertos brandenburgueses. A Band Montreal Baroque, com a qual trabalhou por décadas, acaba de lançar o CD em tributo a Haynes. Homenagem divertida e com música da melhor qualidade. /J.M.C.VISIONSLAB 344 Preço: R$ 30 (em média) ÓTIMOCHICAGO UNDERGROUNDAGE OF ENERGYGravadora: Rob DigitalPreço : US$ 9 (iTunes) BOMÉ nítido o diálogo entre o trabalho de Rob Mazurek e a cena do Hurtmold e seus afluentes (Bodes e Elefantes, M. Takara 3 )da música experimental paulistana. Há tempos, Rob faz uma ponte entre o pós rock e o jazz livre de Chicago com a moçada da Pauliceia. Toca com todo mundo, inclusive com Marcelo Camelo, que contrata o Hurtmold para tocar ao vivo. O uso de beats, texturas sintetizadas, palavras faladas e o que mais der na cabeça dos músicos, guiadas pela lei do improviso, é uma das diretrizes de seu novo disco, assim como tem sido para seus contemporâneos paulistanos. Age of Energy traz seu grupo, o Chicago Underground, decupado à sua formação mais básica, com Rob no trompete e outros apetrechos, e o baterista Chad Taylor arrumando a cama rítmica. É uma conversa crua entre os dois, que surte seus melhores efeitos quando Chad solta as rédeas para criar vendavais sonoros em larga escala, sobre quais o trompete de Rob dança doido e lírico, em constante equilíbrio entre o improviso livre e a escola tradicional, como sempre. Quando o duo incorpora outros elementos, como um beat de hip hop, ou o timbre longo e modulado de um sintetizador, o improviso perde o fluxo, como se os dois ainda não soubessem como se comportar em volta de uma constante e imutável força sonora. /R.N.

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