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Vinícola López de Heredia: síntese da tradição de Rioja

Seus vinhos são feitos de maneira antiga, por fidelidade à qualidade

Por Agencia Estado
Atualização:

A vinícola López de Heredia, ou LdeH como os seus inúmeros cultores a chamam, é a síntese da tradição de Rioja. Seus admiradores podem ser chamados de fanáticos, capazes de brigar no tapa se alguém disser que estes vinhos são arcaicos. E têm toda razão, pois eles são feitos de maneira antiga, extremamente ortodoxa, mas por fidelidade à qualidade e não por estarem apegados à velhice: aço inoxidável passa por ali só por acaso, tudo é feito em madeira, da fermentação ao envelhecimento. Aliás, todo o carvalho é muito velho, de muitos usos, madeira nova só para consertar alguma barrica, na própria tanoaria da empresa. Beber um destes vinhos é um privilégio, a chance de ter acesso a um produto ancestral, mas vivíssimo. Curiosamente do mesmo jeito que desperta paixões desenfreadas tem inúmeros detratores, gente que quer "modernizar" a Rioja, para agradar ao gosto da época, coisas dos apressadinhos, e a prova da falsa dicotomia velho/novo está que entre os fãs destes vinhos figuras como Jesus Madrazo, o grande enólogo da nova geração, um dos produtores de Riojas "atualizados" (os esplêndidos Contino). A rivalidade existe para os tolos, pois se podemos ter várias faces de uma região tão rica, porque ficar com apenas uma delas? Festa Maria José López de Heredia fala em seguida ao Paladar, em entrevista por telefone, com grande humildade e candura, explicando como trabalham. Sua simplicidade não deixa transparecer a imensa importância destes vinhos. Sou suspeito para falar dos Tondonia, especialmente dos brancos, porque sou um apaixonado declarado por estes elegantes, longevos e distintos líquidos. É preciso ressaltar a festa que é ter estes vinhos chegando ao Brasil, pois como se pode imaginar, pelo tempo que levam para serem postos no mercado e pela lista de ávidos compradores que os espera, não há uma imensa quantidade de garrafas disponíveis. Um grande ponto a favor da nova importadora Vinci. Vocês sofrem muita pressão para que a vinícola seja modernizada? São com certeza uma das mais tradicionalistas da Espanha, para não dizer da Europa... Nossa bodega está cumprindo 130 anos [fundada em 1877], já passamos por momentos muito variados na história. Com tantos anos, vimos as modas irem e voltarem, e é como entendemos que as coisas são. Há público para todo tipo de gosto. Gente que pensa que deveríamos passar a fazer vinhos mais modernos e os que querem que continuemos como somos. Consideramos que é mais por desconhecimento da nossa Casa, por isto sempre nos esforçamos para explicar nosso modo de trabalhar. Não sentimos nenhuma pressão, acreditamos no que fazemos e há muita gente que acredita nos nossos vinhos, a prova disso é seguirmos em atividade depois de mais de um século... As pessoas se surpreendem com a incrível longevidade de seus vinhos, em especial a dos brancos, que parecem eternos. Qual o segredo? Historicamente todas as vinícolas de Haro [uma das mais importantes cidades da região, onde estão Muga, CVNE e outras] e da Rioja sabiam como elaborar brancos com capacidade de envelhecimento. O segredo foi não ter parado de fazê-los e acreditar neles. Os vinhateiros não acham que são vinhos comerciais, pois precisam ficar longo tempo na cantina, antes de serem postos no mercado. Lamentavelmente as escolas de enologia já não ensinam como produzi-los. O grande segredo esta na variedade de uva utilizada, a Viura, que tem grande capacidade de envelhecimento, e com o cuidado que temos com os vinhedos, mantendo a alta qualidade das uvas. Toda a nossa vinícola foi planejada para fazer vinhos de longa guarda, tanto brancos quanto tintos. Fermentação em tonéis de carvalho com mais de cem anos de idade, nossa própria tanoaria, que nos permite fazer e manter nossas próprias barricas, depósitos subterrâneos com ótimas condições de umidade natural, frescor e estabilidade térmica, para que o vinho agüente longos períodos de maturação e o mesmo para os vinhos já engarrafados. É assim que eles chegam impecáveis ao consumidor, depois de 25 anos de idade. Como é a gestão da vinícola, já que se trata de uma família? Além de tudo são duas irmãs enólogas... Atualmente somos três irmãos que, junto com nosso pai, trabalhamos diariamente na empresa. Meu irmão Julio César é o responsável pelos vinhedos. Minha irmã Mercedes cuida da direção técnica e eu da administração. Mesmo assim, numa empresa com as características da nossa, todos recebemos uma educação de vinhateiros. Mais que enólogos, nosso pai nos formou como "vinólogos". Somos agricultores, viticultores, porque acima de tudo está a qualidade da uva no campo. Se a uva é boa há muito pouco mais para fazer. Na nossa casa as mulheres sempre trabalharam e não nos parece nada estranho, além do que atualmente há muitas enólogas na Espanha. Qual a safra mais antiga ainda à venda? Qual a sua favorita? Temos vinhos guardados desde 1890, mas à venda, o mais antigo data de 1942. Não tenho safras preferidas, já que uma das coisas maravilhosas dos vinhos é que nunca são iguais, e vão crescendo e evoluindo com a passagem do tempo. Cada garrafa é um universo diferente e sempre em mutação. Algumas safras tem um valor especial, pelo modo como os vinhos evoluíram, como a de 1947 - segundo nosso pai a melhor de toda a história da nossa vinícola - ou a de 1964, considerada a safra do século na Rioja, mesmo que para nós tenha sido mais um milagre... Para quantos países exportam? Exportamos desde o tempo do nosso bisavô, ou seja, muito tempo atrás. Temos um dos primeiros registros como exportadores na Espanha. Atualmente nossos vinhos chegam a quase 50 países, mas em quantidades muito pequenas, pois o mercado espanhol continua sendo nosso principal. Mesmo assim, onde haja gente que goste de nossos vinhos, que se emocione com eles, damos um jeito de que cheguem até lá. Gostamos de brincar que nos compram mais do que nós vendemos, pois em geral são importadores entusiasmados que nos procuram. Qual te parece o futuro para os vinhos clássicos num mundo com tanta pressa de já ter vinhos prontos de imediato? O futuro será uma escolha de cada pessoa. Mas sempre haverá gente que resista à pressa e aí teremos nosso lugarzinho para dar prazer. Não temos a menor intenção de modificar nossa paciência monástica na elaboração dos vinhos e como não temos produção para abastecer todo mundo, não vejo problema nenhum, alguém sempre entenderá o que fazemos. Alguma intenção de visitar o Brasil? Iremos ao Brasil logo que o Ciro Lilla nos peça... (Lilla é o dono da nova importadora, a Vinci, que tem em seu catálogo os imponentes Tondonia e Contino, da Rioja). Vinci - R. João Tobias, 227., Mooca, São Paulo, tel.: 6097-0000. www.vincivinhos.com.br)

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