Vídeo sob demanda ainda é item de luxo

Pesquisa da Turner sobre consumo de mídia indica que TV linear se mantém no eixo central do consumo de imagens

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Por Cristina Padiglione
Atualização:

A TV sob demanda avançou aceleradamente nos últimos dois anos no Brasil. Mas quem já tem seu HD bem pago em casa e uma banda larga potente mal imagina que esse progresso se dê em proporções muito menores do que parece. Segundo a diretora de pesquisas de vendas publicitárias da Turner América Latina, Renata Policicio, apenas 5% da base de assinantes no Brasil têm acesso a plataformas de vídeo por demanda na TV. Dono de 12 canais no País, o grupo acaba de anunciar o resultado de mais uma rodada de suas pesquisas anuais sobre hábito de consumo de mídia. A diferença, dessa vez, é que o alvo não se restringiu às crianças visadas pelo Cartoon Network e pela primeira vez incluiu adultos.Intitulado Screens, o levantamento mensura especialmente a relação entre o espectador e suas várias telas - da TV ao celular, passando por PC e tablet - e foi feito entre assinantes de TV das classes A, B e C, no México, Brasil e Argentina, com segmentos de 7 a 49 anos de idade. "As pessoas ainda se queixam muito da conexão ruim no Brasil", diz Renata. O que parece tão fácil a uns e outros, como baixar séries que acabaram de ir ao ar nos Estados Unidos, é um exercício de paciência para a maioria, o que retarda, também via web, a esperança pelo progresso no hábito da TV por demanda. Para os canais do grupo, ela admite, isso ajuda e atrapalha. "Ajuda a TV linear a manter essa audiência que tem, mas atrapalha, por exemplo, no caso do Cartoon, que tem um site com presença muito forte para o nosso público", diz. De todo modo, enquanto o Ibope não consegue aferir a audiência do que o público vê "fora do ar", o prolongamento da vida útil da TV linear não é mau negócio para tais executivos. A ideia de que o acesso às plataformas de TV por demanda - que dá ao espectador a chance de assistir ao que quer, quando quer - é alimentada também pelo fato de o Brasil ter hoje mais de 16 milhões de assinantes. A TV paga chega, portanto, pelas projeções do IBGE, a mais de 50 milhões de pessoas. O crescimento no número de pagantes, no entanto, construído sobretudo pela classe C ascendente, ainda se restringe a pacotes mais baratos - inacessíveis aos cardápios de vídeo sob demanda ou aos gravadores do tipo DVR ou TIVO, que permitem ao espectador gravar seus programas para assisti-los quando quiser."Essas pessoas estão muito felizes já com seus 50 canais, não pensam em pagar mais por outros serviços", atesta Renata. Segundo a executiva, a aquisição de uma TV do tipo Smart TV, que promove conexão com a internet, é o maior sonho de consumo apontado na pesquisa, especialmente entre a classe C, que dá ao quesito tecnologia uma importância prioritária nos hábitos de consumo. O estudo dividiu sua base de entrevistados em cinco grupos etários - crianças (7 a 10 anos), adolescentes (13 a 15), jovens (18 a 24), jovens adultos (25 a 34) e adultos maduros (35 a 49) -, e em dois subgrupos: os "duo plataforma", com TV paga e computador, e os "multiplataforma", que também usam tablet e/ou smartphone. A metodologia passou pelas etapas de imersão, com entrevistas de especialistas, conexão com os estudados por meio de diários online e entrevistas, além de questionários online.Mais é mais. Ao questionar se valia, aqui no Brasil, a máxima, observada em outros países, de que o espectador com mais telas à mão consome mais informações, o estudo encontrou o mesmo resultado. Derruba-se aí a ideia de que alguém de olho em mais de duas telas acaba por não absorver nada muito bem. Mas qual a profundidade do que é absorvido? "Isso não se sabe", afirma Renata.Outro ponto relevante do estudo confirma a percepção de que há uma geração nascida e crescida sob o hábito do download gratuito - pirata ou não - e que não se mostra disposta a pagar por conteúdo. Enquanto mais de 40% do público adulto se dispõe a desembolsar um valor pelo que consome na TV, no PC ou no celular, crianças e adolescentes já se acostumaram a contar com o custo zero, algo pavimentado pela própria indústria, que alimenta neles a certeza de que tudo estará disponível de graça em curto prazo.A pesquisa também sinaliza as preferências de conteúdo de cada segmento. Para as crianças, os desenhos animados são prioridade, seguidos de filmes, séries, esportes e música. Já os adolescentes preferem filmes, seguidos de séries, desenhos animados, esportes e música. Os jovens assistem mais a filmes e, na sequência, música, séries, desenhos e esportes. Os jovens adultos e adultos maduros escolhem filmes e, depois, música, séries, desenhos e esportes. Bem ao gosto de quem tem de convencer o mercado anunciante de que o público vem dando atenção a mais de uma tela, sem desfocar da TV, Screens endossa que televisão é assunto primordial nas redes sociais e denuncia um consumidor que põe um olho em cada tela ao mesmo tempo.

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