O escritor Luis Fernando Verissimo volta a se encontrar com os leitores espanhóis com Borges e os Orangotangos Eternos, uma homenagem ao autor argentino Jorge Luis Borges, a quem transforma em detetive de um assassinato. Verissimo atribuiu sua ligação cultural com a Argentina à proximidade de sua cidade natal, Porto Alegre (RS), com a fronteira argentina. Admirador declarado de Borges e de sua literatura, Verissimo escolheu o autor de O Aleph quando lhe ofereceram a oportunidade de escrever um romance no qual um autor reconhecido devia protagonizar uma história. Desta forma, Borges junto com o narrador do romance, um judeu alemão que emigrou para a América, se transformam em detetives de um assassinato cometido em Buenos Aires durante a realização do congresso anual da Israel Society. Trata-se de uma enigmática entidade que reúne um grupo de especialistas no escritor Edgar Allan Poe, que acaba de cumprir 200 anos de nascimento. Além disso, há a circunstância de que Borges era admirador de Poe e de seus contos, que percorrem da primeira à última pagina o romance de Verissimo. Para o autor brasileiro este escritor americano é o verdadeiro inventor do romance policial e do narrador no qual não se pode confiar. Encontro com jornalistas Um pouco tímido e acanhado, mas parecendo à vontade cercado por vários conterrâneos, Verissimo participou de um encontro com jornalistas, leitores e tradutores na Embaixada Brasileira em Madri. Ainda pouco conhecido no país europeu, Verissimo visita a Espanha esta semana para divulgar o livro Borges e Os Orangotangos Eternos, uma homenagem ao autor argentino Jorge Luis Borges que foi traduzido para o espanhol. Em entrevista concedida à Agência Efe, o escritor gaúcho falou de política, literatura, viagens e novos projetos. Todos os livros que escrevi até hoje foram encomendados. Agora estou fazendo o primeiro que eu mesmo me encomendei, brincou o escritor. A obra já tem nome, Os Espiões, uma trama que se passa no interior do Rio Grande do Sul. Veríssimo ainda está trabalhando no texto e acredita que o lançamento no Brasil será realizado na metade ou no final de 2009. Veríssimo também falou sobre os novos talentos da literatura brasileira na era do mundo digital. Segundo ele, à margem das dificuldades para publicar livros impressos da forma tradicional, a tecnologia tem facilitado um pouco o trabalho dos jovens escritores. Muita gente está aproveitando o computador, a internet e os blogs para escrever. Isto é bom. Porém, para ter sucesso como escritor o mais importante é a originalidade do relato, declarou. Com quatro obras traduzidas para o espanhol, Verissimo diz que infelizmente são poucos os autores brasileiros reconhecidos no exterior. Alguns como Jorge Amado e Rubem Fonseca são conhecidos fora do Brasil, mas nós não temos o mercado que tem por exemplo um Vargas Llosa ou um García Márquez. A língua portuguesa não proporciona este mercado para seus escritores, declarou. Apesar de nunca ter enfrentado problemas para entrar em um país, Verissimo falou sobre a polêmica dos brasileiros barrados nos aeroportos europeus. O problema é o tratamento, não barrarem ou investigarem a pessoa que está chegando, mas sim a forma como tratam os brasileiros, de uma forma um pouco truculenta, afirmou o escritor. Com 72 anos, mais de 50 obras publicadas, autor de personagens famosos no Brasil como o Analista de Bagé ou a Velhinha de Taubaté, Luís Fernando Verissimo diz que já realizou todos os sonhos da sua vida, inclusive o mais desejado: ter um neto. Algum outro sonho além deste? Pensativo, ele responde: Quem sabe... mais netos.