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Vera Sala ganha bolsa Guggenheim

A intérprete-criadora foi contemplada com uma disputadíssima bolsa da Guggenheim Foundation de Nova York para realizar pesquisa com o corpo

Por Agencia Estado
Atualização:

Vera Sala começou sua carreira de bailarina como muitas meninas, pelo balé. Como tantas, parou para cursar uma faculdade, optou pela fisioterapia, mas a paixão pelo palco foi mais forte. Neste ano, a intérprete-criadora foi contemplada com uma disputadíssima bolsa da Guggenheim Foundation de Nova York, no valor total de US$ 34 mil. O prêmio é destinado aos artistas maduros, com um sólido nome no mercado, que desenvolvam uma pesquisa séria. Funciona como um apoio para o desenvolvimento do trabalho. Há dois anos outra bailarina brasileira recebeu o prêmio, Marta Soares. "Pretendo aprofundar minha pesquisa, investir em ensaios, leituras e viajar por dois ou três meses para conhecer o trabalho desenvolvido por outros artistas e participar dos principais festivais de dança. Ainda estou organizando um roteiro, para aproveitar ao máximo", diz. Como o intuito da bolsa é propiciar aos intérpretes tempo para a pesquisa, Vera deve dedicar o próximo ano para aprofundar seus estudos sobre teatralidade e sobre a discussão em torno dos estados do corpo nas salas de ensaio. Em sua mais recente coreografia, Corpos Ilhados, Vera busca a organização da dança pelo corpo. "A proposta está em discutir o corpo hoje, sujeito à violências, pressões, um corpo fragilizado, degradado, que perde a sua identidade humana." Corpos dá seqüência a Um Estudo para Macabéia, um divisor de águas do trabalho de Vera. "Até então, minha atenção estava voltada para a teatralidade no corpo, mudei de eixo para a investigação dos estados do corpo." Estudo para Macabéia foi apresentado pela primeira vez, ainda como um working progress, no American Dance Festival de 1998. Macabéia é a protagonista do livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Vera não narra a história da personagem, apresenta um trabalho denso, na qual o texto é apenas o ponto de partida para uma investigação sobre os limites do corpo. "Cada espetáculo é como um pedaço de uma extensa pesquisa. A cada espetáculo, descubro novos elementos e uma série de desdobramentos. O início é sempre complexo, tenho muitas questões para poucas respostas. No desenrolar do trabalho surgem novas questões, mais dúvidas, nunca sei de fato se conseguirei as respostas." Vera é uma artista que resiste bravamente, diante das dificuldades de sobreviver da dança no Brasil. Sem patrocínio ou apoio, desenvolve sua pesquisa e coloca em cena seus espetáculos. Nesse sentido, a bolsa da Guggenheim possui um sabor especial. "É sempre bom ter o seu trabalho reconhecido, ainda mais quando vem de uma instituição tão séria e importante. Ao mesmo tempo que receber uma bolsa como essa gera uma imensa angústia, a responsabilidade de retribuir à altura a confiança depositada em você." Início - Em 1985, Vera voltou a fazer aulas no estúdio de dança de Ruth Rachou. Nesse período, o projeto Corpo Inteiro abria as portas para diversos cursos de técnicas, composição coreográfica, história da dança, música, entre outras atividades. "Funcionava de forma parecida com uma faculdade, tínhamos acesso a uma série de informações, nessa época desenvolvi meu primeiro solo, Tempo Zero, em 1987." De acordo com Vera o projeto foi o impulso inicial para a volta aos palcos, com a atenção voltada para as formas que a dança organiza-se no corpo, que para as técnicas. Uma visão que se extende ao processo de criação. Vera costuma elaborar seus trabalhos sozinha, lida com núcleos de movimento isolados que pouco a pouco são incorporados no trabalho. Em seu currículo, uma coleção de prêmios, como a Bolsa Vitae, em 1997, o Mambembe, em 1998, e APCA por sua pesquisa em dança em 1999. "Devo destacar a importância de Rosa Hércoles, que me acompanha e dialoga enquanto crio."

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