Veneza: eventos paralelos apelam a clichês

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Por Agencia Estado
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Com três diferentes celebrações, em distintos pontos de Veneza, e um jantar para 500 pessoas na noite de quinta, o Brasil inaugurou o pacote de exposições que preparou para marcar presença na disputada agenda da Bienal de Veneza. Na quinta começou a exposição de santos negros barrocos na Igreja de San Giacomo dall´Orio e logo em seguida oficializou-se a abertura do Pavilhão Brasileiro nos Giardini di Castello. As obras de Miguel Rio Branco e Tunga foram exibidas pela primeira vez na festa do museu Peggy Guggenheim, também ontem à noite. A primeira e mais imponente cerimônia foi ainda na noite de quarta-feira, no Palazzo Fortuny, espaço alugado especialmente para isso pela BrasilConnects (antiga Associação Brasil +500, que este ano ficou com a incumbência de cuidar da representação brasileira, que normalmente cabe à Fundação Bienal de São Paulo). O jantar dançante organizado pela BrasilConnects foi confuso, com boa parte dos convidados sendo barrados na entrada - inclusive Edemar Cid Ferreira, presidente da instituição. O serviço também deixou a desejar, com algumas exceções como o ex-presidente José Sarney, servido à la carte no evento. Com direito a disputadas taças de prosecco e ao ritmo de uma incansável Carmem Miranda, os convidados brasileiros e internacionais admiravam o que deveria ser uma exposição sobre a cantora brasileira que encantou Hollywood (mas na verdade é um grande bric-a-brac de jóias, roupas e sapatos extravagantes) embalado ao som e imagem de seus filmes. Dividindo o mesmo espaço, está outro equívoco: uma mostra sobre carnaval brasileiro que pouco ou nada revela sobre a festa popular nacional. Mesmo podendo contestar a congruência de mostrar em Veneza o que há de mais exportável no Brasil - além de Carmem Miranda e o carnaval, só faltou o futebol, que agrada ao público italiano -, o que mais impressionou foi a incapacidade brasileira de realizar boas exposições sobre os temas. Infelizmente, ou talvez felizmente, porque ficaram preservados da confusão e puderam ser admirados com a tranqüilidade merecida, as obras de Ernesto Neto e Vik Muniz (os dois representantes brasileiros na Bienal receberam este ano um duplo espaço de exposição) estavam isoladas no térreo do prédio. Para vê-las, o visitante que chegou no início do vernissage tinha de insistir com o porteiro, que teimava em indicar que se devia ir primeiro à parte de cima. O trabalho dos dois artistas segue linhas distintas daqueles exibidos na mostra do pavilhão, mas, ao mesmo tempo, permite que se tenha uma visão mais ampla de suas produções. Vik por exemplo, exibe na mostra oficial uma pesquisa bastante relacionada com a história da arte, recriando em mosaicos coloridos imagens de mestres como Van Gogh. Já no Palazzo Fortuny, ele adota uma maior liberdade e usa todo o seu poder ilusionista ao recriar com gel (e posteriormente fotografar) os mapas celestiais de grandes momentos históricos, como a queda da Bastilha, a chegada do homem à Lua ou o acidente de Chernobyl. Já Ernesto preferiu trabalhar nesta mostra paralela com os vazios, os ocos de uma estrutura que lembra a ossatura de um estranho ser pré-histórico, enquanto na Bienal ele lida com formas cheias, plenas. Curiosamente, o material é sempre o mesmo: tecido de malha e bolinhas de isopor, como aqueles dos puffs. Apenas na mostra Pavilhão da Humanidade, ele agrega outro elemento, o cheiro dos temperos, como açafrão, pimenta e cravo.

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