Vencedores do Prêmio Multicultural vão receber escultura de Félix Bressan

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Por Agencia Estado
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Este ano, os vencedores do Prêmio Multicultural 2001 Estadão Cultura levarão para casa como símbolo de seu mérito uma escultura projetada pelo artista plástico Félix Bressan. A peça criada pela artista e escolhida entre quatro propostas apresentadas por outros artistas plásticos brasileiros faz parte de uma série recente de oito esculturas que o artista gaúcho só vai expor no início do ano que vem, na Galeria Thomas Cohn, em São Paulo. Esta é a primeira vez que um trabalho do escultor será usado como objeto de premiação. Autor de peças engenhosas e de difícil execução, Bressan não produz em larga escala. Na maior parte das vezes, trabalha durante muitos meses na criação de suas séries. A obra escolhida para ser o troféu, uma peça de difícil execução, ainda não existe em sua forma final. Existe um protótipo, uma representação em cera do que será uma peça grande possivelmente de cobre e que deverá pesar entre três e quatro quilos. A estrutura interna criada por Bressan será mantida na peça final. Bressan criou uma engenhoca formada pela união de seis colheres (dessas de cozinha), feitas de aço inoxidável e plástico. Elas são descobertas por quem manipula a parte metálica externa da escultura, que pode ser "descascada", tornando-se nada mais que o invólucro dos talheres. "Sempre utilizei objetos do cotidiano em meus trabalhos mas dessa vez o trabalho está mais elaborado, mais difícil", comenta o artista gaúcho, que exatamente por essa relação com o dia-a-dia e com as peças utilitárias em sua arte participou da exposição Por Que Duchamp? realizada em São Paulo, no Paço das Artes e no Itaú Cultural, há três anos. O escultor descreve sua fase de produção mais recente como um momento culminante de sua carreira. E o primeiro fruto dessa fase é exatamente o troféu a ser entregue aos três criadores e ao fomentador que serão escolhidos pelo colégio eleitoral formado por quase 5 mil pessoas de todo o País. "Não que eu considere as construções simples menos importantes, mas estou trabalhando com um refinamento técnico muito maior e mais aguçado em relação ao que realizei até agora", diz. Ele exemplifica isso com a escolha mais provável de material para o troféu, o cobre puro, que é muito mais complicado de se trabalhar do que o bronze e outras ligas metálicas. "Gosto da idéia de usar o metal puro", acrescenta. Engenharia - Outra evidência do amadurecimento do trabalho de Bressan foi a engenharia mais elaborada de alguns sistemas de sua escultura, como a articulação das peças. A concha que abriga as colheres pode ser aberta e fechada de maneiras diferentes. O espectador só entende que se trata de uma caixa desdobrável após segurá-la nas mãos e perceber que ela pode ser aberta. "Uma das leituras desse processo é a idéia de que algo simples e banal, como as colheres, pode dar origem a algo ´precioso´, como uma escultura de cobre, que é, no fim das contas, apenas uma capa." A peça externa parece, de fato, imitar o desenho determinado pelo conjunto de talheres, como se estes fossem o esqueleto de uma mão recoberta por metal no lugar da carne e da pele. "Não premeditei a reprodução de uma mão, mas depois de pronto o protótipo, notei que só conseguia descrevê-lo utilizando minha mão como modelo", concorda o artista, que não é afeito a dar muitas explicações sobre suas obras. "Não gosto de conduzir ou influenciar a interpretação ou a sensação que as pessoas encontram nos meus trabalhos", explica. Uma das características mais fortes da obra de Bressan é exatamente a elevação dos objetos utilitários e funcionais a peças de arte. Em sua mostra individual mais recente na cidade, realizada em 1998 na Galeria Thomas Cohn, ele apresentou esculturas que faziam uso de espanadores e vassouras, entre outras coisas do cotidiano doméstico. "Mas não se trata de um discurso nem me preocupo muito com simbolismos. Considero-me um artista instintivo, que simplesmente faz."

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