Van Gogh e Modigliani disputados em feira holandesa

Tela do holandês, pintada em Paris, à venda por 10 milhões, alcançou metade do valor pedido por obra do italiano

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Por Antonio Gonçalves Filho
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Até por ser holandês, Vincent van Gogh (1853-1890) está representado todos os anos na Tefaf Maastricht, Holanda, a mais elegante das feiras de arte na Europa – e também a mais exclusiva, considerando o congestionamento de jatinhos particulares no aeroporto de Maastricht nesta época. Na edição deste ano da feira, a de número 27, que começou nesta sexta-feira com 250 galerias de 20 países, um Van Gogh raro chama a atenção dos visitantes. Examinada pela equipe de especialistas da feira (são 175), a tela Moulin de la Gallete está sendo negociada por mais de 10 milhões pela Dickinson, uma das mais prestigiadas galerias no circuito Nova York-Londres. Justificável. É uma das duas pinturas da série de moinhos de Montmartre ainda nas mãos de colecionadores particulares – ela pertenceu a um industrial americano que serviu de modelo para Ian Fleming, o pai de James Bond (o agente 007), criar o arquiinimigo de Goldfinger.

 

 

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Van Gogh pintou a tela em 1887, num período de transição, em que abandonou a representação de camponeses da Holanda rural para se dedicar a paisagens parisienses pós-impressionistas, incentivado por seu irmão Theo, primeiro proprietário de Moulin de la Gallete. A tela foi herdada por sua viúva Johanna van Gogh-Bonger com outras pinturas e as cartas trocadas entre os dois. Além de sua importância artística, a obra tem história. Foi um dos trabalhos selecionados por Johanna para a primeira grande exposição póstuma de Van Gogh, no Stedelijk Museum de Amsterdã, em 1905, como consta no verso da tela. A mulher de Theo presenteou-a ao amante pintor Isaac Israëls (1865-1934) em troca de um retrato seu– péssimo negócio, apesar de Israëls estar representado no Rijksmuseum.

Outro contemporâneo de Van Gogh a alcançar cotação estratosférica na Tefaf foi Modigliani (1884-1920). Sua tela Noiva e Noivo está à venda por 25 milhões, mais que o dobro do valor da pintura de Van Gogh. A procura pelos impressionistas e pós-impressionistas cresceu, embora os modernos e contemporâneos também sejam disputados por colecionadores em Maastricht. O nome mais cotado é o do norte-americano Alexander Calder (1898-1976)– há quatro obras suas à venda, inclusive a da entrada da feira, que depois vai para o Rijksmuseum. Seu monocromático móbile Black 2-2-6, de 1965, foi vendido para um colecionador europeu por US$ 2,6 milhões.

Dos pintores contemporâneos, o alemão Gerhard Richter é outro artista procurado (também são quatro os seus trabalhos na Tefaf), seguido pelo inglês Francis Bacon e o espanhol Picasso – que continuam na ‘wishing list’ dos colecionadores. Uma estudo de Bacon sobre o corpo humano, em óleo e pastel, de 1986, está sendo oferecido por US$ 25 milhões. Os contemporâneos, como se vê, não são exatamente azarões, mas a Tefaf se notabilizou como uma feira de antigos mestres e dos primeiros modernos, embora o segmento tenha crescido nas últimas edições, atraindo galerias que trabalham com artistas como Damien Hirst.

Os organizadores da feira até criaram a Tefaf Modern para firmar esse compromisso. Damien Hirst esteve na abertura da feira holandesa, que divulgou dados exclusivos: as vendas globais do mercado de arte e antiguidades atingiram 47,4 bilhões no ano passado, valor bem próximo do nível registrado antes da recessão europeia. Os EUA ainda respondem por 38% desse mercado. A China vem em segundo lugar (24% ou 11,5 bilhões), ocupando o Reino Unido o terceiro (20%).

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