Vale tudo para se vender CD e DVD

Alcione leva seu último trabalho a quiosques das praias do Rio; Silvia Machete oferece no próprio palco, em shows

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

A partir das próximas semanas, 75 dos 309 quiosques da orla do Rio venderão, além de petiscos e bebidas, os mais recentes CD e DVD de Alcione, Acesa - Ao Vivo em São Luís do Maranhão (Universal). Achou estranho? É mesmo. Faz parte do vale-tudo na tentativa de mitigar o impacto dos downloads não pagos e da pirataria, que há mais de uma década fez minguar as vendas dessa e de outros antigos colecionadores de discos de ouro. "Quando me convidaram, não achei estranho, não. Os artistas têm que procurar alternativas. Faz parte do nosso show", brinca a cantora, que, aos 40 anos de carreira, está se dispondo a fazer visitas-relâmpago a alguns dos quiosques e ainda a se apresentar no que for campeão de vendas, num estilo voz e violão. "Eu sempre ganhei mais com show do que com disco, mas com a pirataria piorou muito." O preço do CD ficará em R$ 20, o mesmo praticado pelas lojas. As paredes da casa de Alcione exibem 25 discos de ouro e 5 de platina - são mais de 9 milhões de discos vendidos. Lembranças de um tempo que não volta mais, quando ainda não existiam as lojas virtuais e a necessidade de se comercializar em supermercados. De 2002 a 2009 a venda de CDs e DVDs no Brasil foi reduzida à terça parte, de 75 milhões de unidades para 25 milhões. Para aqueles que já iniciaram suas carreiras nesses tempos difíceis, acomodação, nem pensar. Silvia Machete é um exemplo. Performática, a cantora leva seus CDs para o palco, e faz, ela própria, a propaganda de seu produto. "É onde ganho mais, não dá para comparar com as lojas. Já vendi 70 CDs por noite", diz. "É um golpe baixo que eu faço. Digo: "Se você quiser me ajudar, está aqui, com fotos lindas no encarte, arte linda..." Ainda chamo uma amiga muito bonita que "serve" os CDs numa bandeja com frutas." É uma questão de sobrevivência, Silvia explica. É bom para ela e para quem compra: no show, o CD Extravaganza custa R$ 20; nas lojas, são R$ 25. Na banca de jornais Piauí, na esquina do apartamento de Silvia, no Leblon, o preço é R$ 35. Foi ela quem levou uma caixa com 34 CDs para o jornaleiro.Já está provado que o mais vantajoso hoje em dia, tanto para as empresas quanto para os artistas, é focar nas prateleiras não convencionais, acredita Von Kilzer, sócio da Coqueiro Verde (de Silvia). Nos shows de seus artistas, como fazem outras gravadoras, a Coqueiro monta a velha banquinha de CDs - uma prática antiga, necessária como nunca. Seu criador e maior nome, Erasmo Carlos, sai-se muito bem assim. "Hoje, para vender disco, é preciso emocionar: tem que ser na hora. No último show do Erasmo, no Circo Voador, levamos 300 CDs e compraram praticamente tudo", conta Von Kilzer. O pianista Glaucio Christelo, aposta da gravadora, põe a mão na massa. Às terças e quintas, nos shows que faz no Shopping Leblon, coloca os CDs sobre o piano. "A pessoa gosta na hora e já compra. Se você indicar que compre na loja, ela desiste. Tenho que divulgar o meu trabalho."Com o número cada vez menor de lojas, a Biscoito Fino montou há seis anos quiosques em shoppings cariocas, com CDs e DVDs. O mostruário é diversificado, tem bem mais do que os campeões de vendas da gravadora, Maria Bethânia, Djavan e Mart"nália, entre outros.Já são quatro, e há previsão de abertura em São Paulo. "Vale muito a pena, estamos ampliando ao máximo a visibilidade do acervo, de 600 álbuns. O público do shopping é grande, e diminuímos os custos. Estamos o tempo todo pensando em alternativas para a crise", esclarece o diretor José Celso Guida, também à frente da Associação Brasileira de Música Independente.

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