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Unidade de Mariko Mori

Artista japonesa leva às suas obras o conceito budista da união universal

Por Camila Molina
Atualização:

A tragédia natural que ocorreu este ano no Japão não é um problema isolado, mas algo que pertence a todos nós. "É importante pensar a escala da Terra, que dividimos a mesma natureza e sociedade. Somos todos parte e responsáveis também", afirma a artista japonesa Mariko Mori, que inaugura amanhã em São Paulo, no Centro Cultural Banco do Brasil, a mostra Oneness, sua primeira individual no País, já apresentada em Brasília e no Rio. O título da exposição, em inglês, se refere ao conceito budista da plena unidade. Mariko acha importante resgatá-lo nestes tempos de "sistemas globais de comunicação", em que fronteiras entre países e entre culturas vão se dissolvendo - mas, de alguma forma, com certa superficialidade. Estamos todos conectados, mas é preciso que essa conexão seja mais ampla.Por isso, já no hall de entrada do CCBB, uma grande nave - máquina tecnológica e escultura de toneladas - convida o espectador a interagir com a obra e com os outros. Wave Ufo (1999-2002), que recebe três pessoas por vez, promove em seu interior a conexão de ondas cerebrais captadas por eletrodos e imagens de animação para uma experiência imersiva. É a peça que, inevitavelmente, mais chama a atenção dos visitantes - e a nave já foi exibida na Áustria, em Nova York e na Bienal de Veneza de 2005, mas a mostra Oneness perpassa a trajetória da artista por obras de diferentes escalas e de mídias diversas - escultórica e de objetos (com design arrojado), fotográfica, pela criação de vídeos e desenhos.Mariko Mori é conhecida internacionalmente desde os anos 1990 e ela apenas havia participado antes, em 2002, da 25.ª Bienal de São Paulo, exibindo uma obra. No início, realizava fotografias de grandes formatos e vídeos de uma estética "neopop", como afirma o curador da mostra, Nicola Goretti, e performática, nas quais a própria artista se colocava como personagem de narrativas com misto de imaginário, mitos e seres que se referem à tradição religiosa ou "como saídos de videogames". "Era mais figurativo", diz a japonesa, completando que nesses trabalhos sua ação refletia a vontade de colocar a questão de "um futuro que vira passado, em um momento", explicitar que há "diferentes dimensões".Na fotografia Empty Dream (1995), Mariko é uma sereia numa praia contemporânea; no vídeo Miko no Inori (1996), ela usa roupa e adereços que remetem ao futuro. Mas na exposição percebemos que ao longo de sua trajetória a artista foi caminhando para a abstração. A obra Oneness (que dá título à mostra), criada em 2003, é um círculo formado por "alienígenas" azuis, figurativos. Entretanto, esse trabalho, mais Wave Ufo e Transcircle (2004) - roda formada de "pedras" tecnológicas de LED que remete a um lugar ritualístico e místico como o Stonehenge - tratam já de uma "utopia da ligação interplanetária", e adentram ainda mais (e com leveza) no conceito da "união universal".Dessa maneira, o diálogo com a natureza, numa escala maior, foi ganhando força na produção atual de Mariko. Ela conta que está procurando um lugar particular no Brasil para a criação de uma obra monumental para espaço aberto, com montanhas e cachoeiras - provavelmente, entre a região de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. "O destino vai me levar ao local certo", diz. Será um projeto caro, mas tudo ainda está em processo inicial. A obra brasileira representará a América do Sul em série ampla que englobará seis continentes - o primeiro site specific, Primal Rhythm, formado por duas grandes esculturas, foi feito em julho na Ilha Miyako, em Okinawa, no Japão.QUEM ÉMARIKO MORIARTISTA PLÁSTICANascida em Tóquio, em 1967, a artista (ao lado, com escultura do trabalho Oneness) recebeu menção honrosa na 47ª Bienal de Veneza, de 1997. Tem obras em coleções de museus como o MoMA e o Centro Pompidou, de Paris. Vive em Nova York.MARIKO MORICCBB. Rua Álvares Penteado, 112, telefone 3113-3651. 9h/21h (fecha 2ª). Grátis. Até 16/10. Abertura amanhã, às 16h.

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