Uma visão política de "Candide"

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Por Agencia Estado
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A montagem brasileira de Candide terá um viés político, como pretendia seu autor, Leonard Bernstein, e muito ansiava sua incentivadora, a escritora Lillian Hellman - em diversos momentos, a ditatura é uma referência presente na tradução de Cláudio Botelho, que vai ficar em cena durante os dois atos, interpretando o narrador. As referências continuam no cenário, desenhado por Charles Möeller, que se inspirou nas pinturas de Henri Matisse. As telas, além de dinamizarem as cenas, tomam a frente do coro e servem como pano de fundo para as aventuras de Candide, o personagem principal. A montagem dirigida por Jorge Takla será uma rara incursão de um espetáculo operístico totalmente narrado em português, no Brasil - a última, A Viúva Alegre, foi encenada em 1994. O diretor decidiu seguir a mesma linha de encenação-concerto dirigida pelo próprio Bernstein, em Nova York pouco antes de sua morte, em 1990. A versão, que contava com June Anderson, tornou-se a definitiva desde sua primeira encenação, em 1956. "Esta era muito política", comenta Takla. "A história original, que é uma sátira à filosofia iluminista, é utilizada como uma crítica ao macartismo; somente alguns anos depois, quando mais autores (Dorothy Parker, Stephen Sondheim e outros) contribuíram com outras canções, é que a obra adquiriu uma versão típica da Broadway para, então, fazer sucesso, já nos anos 70." Os papéis principais serão representados pelos cantores Fernando Portari, Denise Tavares, Sandro Christopher e Regina Elena Mesquita. A montagem brasileira de "Candide", que terá três apresentações no Rio para então vir a São Paulo, coincide com uma série de relançamentos em CD que marca os dez anos da morte do Leonard Bernstein, ocorrida em 14 de outubro. A alemã Deutsche Grammophon reeditou gravações de Bernstein dentro da série Classic Performances. São três volumes, cada um com um tema: Judaica (em que estão presentes gravações feitas por ele de obras suas que têm as escrituras judaicas como tema: Jeremiah, Kaddish, Dybbuk e Chichester Psalms), Bernstein´s America (com gravações de peças de Copland, Gershwin, Barber e do próprio Bernstein) e Bernstein in Vienna (gravações que o maestro fez da 4.ª, 6.ª e 9.ª sinfonias de Beethoven à frente da Filarmônica de Viena). Já a Sony Classical está relançando a coletânea Bernstein Century: são mais de 30 CDs com gravações feitas por Bernstein ao longo de sua carreira à frente de grandes orquestras, como as filarmônicas de Nova York e de Israel.

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