
18 de março de 2011 | 00h00
Outro equívoco é apontar fratura entre os movimentos orquestrais e o coral-sinfônico final. A organicidade da obra é plena. Titan mostrou como Beethoven "sondou nela os limites da linguagem musical que ajudara a consolidar". Os três primeiros "funcionam como um grande arco de tensão que conduz à soleira do Finale", quando os temas anteriores reaparecem e são recusados no início orquestral. Quando o barítono canta "Outros sons! Estes não", abrindo a parte vocal da sinfonia, "a Ode se torna cenário de um diálogo com todo o material instrumental anterior". "Beethoven fez o tratamento fugal da orquestra incidir sobre o próprio texto, que vai tomando corpo à nossa frente como enfrentamento contrapontístico de dois temas verbais, éticos e musicais: de um lado, o louvor da fraternidade humana, introduzido pelas vozes solistas; e de outro o cântico etéreo introduzido pelo coro."
O título da palestra remete a dois vetores básicos. De um lado, desde 1785, data do poema Ode à Alegria de Schiller, ele ruminou a ideia de utilizá-lo em música; de outro, a melodia da Ode também acompanhou-o por igual tempo. Na sinfonia, ele repassa diante de nós estes trajetos e os projeta ao futuro.
Devemos resistir à tentação de extrair um sentido final da Ode, alertou Titan. "Vale a pena resistir, pois o Finale chega a um ponto de repouso menos por obra de uma solução que se impõe e mais por obra do livre jogo de todos os elementos mobilizados". Mas, ao mesmo tempo, "Beethoven retorna e repensa os ideais humanos e políticos que o haviam inspirado em seu momento heroico comporta-se como quem quer legar ao futuro a promessa ou o projeto de uma vida humana mais plena e luminosa".
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