
06 de julho de 2010 | 00h00
Desde 2007, Sandra está trabalhando o tema do mar, em uma exposição em Portugal, onde uma relação com o oceano é mais que natural dada a posição geográfica e a história do país. A partir de então, em espaços diferentes que não portugueses - na Espanha e mesmo agora em São Paulo -, a artista vem recriando obras distintas de simbologia poética (no paradoxo entre encantamento e arrebatamento) de diálogo entre o homem e o mar e expandindo uma raiz pictórica em seus trabalhos. "A gente vive naufrágios todos os dias por falta de uma ética, mas também o dos desejos e das dores que temos de atravessar", diz Sandra Cinto definindo que sua maneira de falar de política não é fazendo trabalhos literais.
Arquitetura. Na verdade, Imitação da Água (título de poema de João Cabral de Melo Neto), com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e, surpreendentemente, a primeira mostra individual na trajetória de 20 anos de Sandra Cinto em uma instituição de São Paulo, teve como ponto de partida a vontade dela de criar uma obra em uma sala circular, enfim, desde uma situação arquitetônica específica. "Desta sala com parede de 360 º foi detonado todo o processo da mostra."
Sendo assim, para a primeira sala do andar térreo do Tomie Ohtake, a artista criou a imersão total no desenho, num "mar aberto", como diz, que tem como fundo de sua representação faixas de azuis (até o negro) e traços feitos com canetas permanentes à base de óleo em tonalidades de prata. "Há uma geometria no fundo, com os planos definidos, e um desenho intuitivo, em partes, como um rendado", afirma Sandra, analisando que seus traços prateados estão ganhando uma densidade, uma materialidade diferente de suas obras anteriores.
Depois, na segunda sala, a da "tempestade noturna", ela define, nos vemos diante do ambiente mais "dramático" e interessante da narrativa de Sandra Cinto. Em espaço de azuis-marinhos e quase pretos, sete telas verticais - fazendo bela relação com a representação oriental - são sete mares instáveis e em prata. No chão, 2 mil barquinhos de papel branco caíram de uma mesa destruída pela tormenta. Já para o fim, a artista criou o espaço do amanhecer, no qual telas fazem a representação de um horizonte de 8 metros, que podemos contemplar sentados em um banco de madeira, o Porto, ancorado em seus pés por livros, por "poesia". "Aqui se junta o céu e o mar novamente, o lugar seguro para a reflexão", diz Sandra.
Encontrou algum erro? Entre em contato