Uma instituição paralisada

Ministério Público Estadual enviou ofícios para que Fundação José e Paulina Nemirovsky resolva problemas

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Por Camila Molina
Atualização:

"A Fundação Nemirovsky está perdida", diz o promotor do Ministério Público Estadual, Airton Grazzioli, curador de fundações. Com a renúncia do advogado Arnoldo Wald Filho à presidência do conselho da entidade, o cargo está vago e, sendo assim, Grazzioli indicou o diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Mattos Araujo, para o posto. Mais ainda, enviou ao conselho da Fundação José e Paulina Nemirovsky dois ofícios - um deles, dando prazo de 72 horas a partir do recebimento para que a entidade forneça informações sobre a falta de uma diretoria executiva; e outro para que os conselheiros se reúnam, em até 10 dias, para eleger seu presidente."Marcelo Araujo aceitou", diz Grazzioli, mas o diretor da Pinacoteca não quis comentar a indicação. A escolha de seu nome, por parte do MPE, ocorreu a fim de fortalecer o vínculo da Fundação José e Paulina Nemirovsky com o museu da Secretaria de Estado da Cultura, que abriga a entidade e sua valiosa coleção de arte - avaliada em cerca de R$ 100 milhões e cedida em comodato ao governo - na Estação Pinacoteca. Em junho, quando a família dos instituidores da fundação (ambos mortos) nomeou o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, patrono da entidade, ele sugeriu que a Nemirovsky poderia ter um espaço próprio."O MPE é contra isso e a indicação de alguém da Pinacoteca é para dar uma cerceada nesse movimento de eventualmente se tirar a coleção de lá", afirma Grazzioli. Segundo o promotor, não existe no estatuto da fundação o cargo de patrono - o que foi questionado - e, portanto, Dirceu não pode realizar nenhuma ação em nome da entidade. Mas essa infração é apenas uma dentre outras que refletem uma vulnerabilidade latente da entidade depois da troca de sua gestão, em março.A falta de uma atual diretoria executiva na fundação "está causando problemas", diz o promotor. Ele lembra que até agora não foi respondido o pedido de empréstimo da obra Antropofagia, de Tarsila do Amaral, para participação de mostra na Bélgica. "E se a fundação não tem diretoria, também não tem como movimentar suas contas."Outra infração estatutária é a família ter, agora, a maioria no conselho de nove vagas. Com a renúncia, em julho, de Wald Filho, Maria Carolina Nemirovsky de Moraes Leme, de 20 anos, neta dos colecionadores, tornou-se a presidente. Além dela, que atualmente tem "voto duplo" por acumular as funções de presidente interina e secretária, são membros do conselho a filha de José e Paulina, Beatriz Pistrak Nemirovsky Moraes Leme, e seus filhos Gabriel, de 20 anos e Bettina, de 18.

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