Uma escritora roubada do cinema

Nascida na Guiana, a também atriz Pauline Melville se mantém atenta ao destino das minorias

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Por Redação
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Pauline Melville tinha apenas 21 anos quando interpretou uma prostituta no cinema em Ulysses (1967), dirigida por Joseph Strick. Fez o papel mais de uma vez (a última em 1986, no filme Mona Lisa, de Neil Jordan) e poderia ter continuado se não tivesse se tornado escritora, ainda assim preocupada com o destino das minorias. Nascida na Guiana de mãe inglesa e pai mestiço, ela logo se habituou ao papel de intermediária entre culturas e é com esse espírito que enfrenta hoje a mesa de debate providencialmente chamada de Chá Pós-Colonial com o escritor William Boyd, de Gana, na 8.ª edição da Flip. Tanto Pauline como Boyd têm muito a falar sobre esse chá, que não é o das 5, tipicamente inglês, mas o de autores preocupados com a questão da identidade de povos colonizados como os de seus países de origem.Boyd publicou recentemente Ordinary Thunderstorms, que trata da perda de identidade de um jovem. Pauline teve seu livro A História do Ventríloquo publicado aqui em 1999 pela Companhia das Letras, um romance que fala do impacto da colonização europeia na Guiana por meio da relação interdita entre uma inglesa e um mestiço. Ambos acabam, involuntariamente, repetindo a mesma história proibida de dois irmãos incestuosos antes da colonização. Pauline, em entrevista exclusiva ao Estado, assumiu que sua vida pessoal tem sido muito bem aproveitada na ficção. Anteriormente, já adotara como ponto de partida de seu conto You Left the Door Open um episódio dramático ocorrido há 20 anos em seu apartamento londrino. Morando no andar térreo, foi surpreendida pela entrada de um criminoso pela janela, que a manteve amarrada após quase enforcá-la. "Soube depois que ele cometera um assassinato." Salvou-a a habilidade de soltar cordas aprendida ao brincar com elas quando criança. "Ele estava distraído buscando coisas para roubar e eu pulei a janela."No conto, Pauline vira uma artista de cabaré que abre as portas de alguma região infernal ao usar a imaginação. Há quase sempre nos seus livros narradores com capacidade extraordinária para traduzir experiências alheias. "É coisa de ator", resume a autora, que acaba de rodar um filme em que atua como madre superiora de um convento, o último papel que se poderia imaginar para ela, sempre às voltas com personagens marginalizados.

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