"Um Trem Chamado Desejo" chega a SP

Montagem do grupo mineiro, que mistura em cena teatro e cinema, e cujo argumento discute os limites das duas expressões artísticas, estréia na sexta

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Por Agencia Estado
Atualização:

Uma típica trupe teatral brasileira da década de 20 às voltas com a concorrência do cinema e com um triângulo amoroso interno envolvendo uma atriz, um grande ator trágico e o galã da companhia. Esse é o ponto de partida da comédia musical Um Trem Chamado Desejo, dirigida por Chico Pelúcio, o mais recente espetáculo do grupo mineiro Galpão, que estréia amanhã para convidados e sexta-feira para o público no Sesc Consolação. Com texto de Luís Alberto de Abreu, músicas de Tim Rescala e cenário de Márcio Medina, Um Trem coloca o palco no palco - o cenário reproduz uma caixa cênica. No primeiro ato, o espectador acompanha a febril atividade de uma companhia como se visse o palco pelos fundos, com suas coxias e camarins. No segundo, há uma reviravolta, o palco gira, as coxias e a platéia voltam ao seu devido lugar e o público assume o seu papel de público. Novidade - Não importa o ponto vista. Impossível ficar indiferente aos problemas da decadente Companhia Alcantil das Alterosas, cujo teatro está a cada dia mais vazio por causa de um novo concorrente - o cinema - novidade que vem encantando a cidade. "Metaforicamente, poderia ser a televisão. Afinal, essa discussão - sobre a morte do teatro - é antiga e permanente. Tem sempre alguém dizendo que o teatro vai acabar", afirma Pelúcio. O teatro, certamente, sobrevive. Mas a tal companhia mineira está à beira da ruína. E o que fazer para não acabar? Há controvérsias. Entre os atores da Alcantil, o "ponto" Praxedes (aquele profissional que ficava no fosso soprando o texto para os atores) defende um mergulho nas raízes e oferece um texto de sua autoria, um autêntico musical mineiro louvando a vida no campo. Já o galã Madeira afirma que o público quer diversão e sugere a imitação das Revistas Cariocas, com seu humor malicioso e sensual. O ator trágico Meirelles, naturalmente, é contra essa concessão ao gosto médio e faz uma inflamada defesa dos clássicos. Vence o lado prático e eles decidem encenar o musical criado pelo ponto. O público do Sesc Consolação vai assistir a esse musical de louvor a Minas do ponto de vista das coxias. E deve dar boas risadas com o patético das cenas, como já ocorreu na estréia em Belo Horizonte e na participação do espetáculo no 10.º Festival de Teatro de Curitiba. Para desconsolo da trupe, o tal musical - com suas vaquinhas e tropeiros - é um estrondoso fracasso. Felizmente, quando tudo parece perdido, um produtor acena com a possibilidade de a trupe fazer cinema. "Ele promete colocá-los no topo do sucessso. Além de atingir um público imenso - muito maior do que no teatro - eles vão ficar famosos e ganhar dinheiro." Ou seja, o empresário promete tudo aquilo que o teatro parece não mais poder proporcionar-lhes. Traição - O grupo fez um filme (de verdade) de oito minutos, exibido durante o espetáculo. Cenas de um Casamento o nome do filme, tem a participação de Cacá Carvalho, Du Moscovis, Maria Padilha e Tim Rescala. Porém, em plena exibição, um problema obriga a trupe a "representar" o filme no palco. É aí que começa uma divertida brincadeira entre ficção e realidade. Isso porque o filme retrata um triângulo amoroso e, não por acaso, o marido traído da companhia faz o papel de marido traído no filme/apresentação. O problema - para a mulher e o amante - é que ele resolve levar a sério a representação. Com 19 anos de existência e muitos prêmios no currículo, o Galpão tem como particularidade ser basicamente um grupo de atores, cuja atividade não gira em torno de um encenador. Ora um diretor externo é convidado para a concepção de um espetáculo - como foi o caso de Gabriel Villela para a direção de Romeu e Julieta - ora algum dos atores assume a direção. Foi assim com Um Trem Chamado Desejo, dirigido por Chico Pelúcio, um dos fundadores do Galpão. "Tudo começou quando resolvemos levantar um repertório de músicas de traição", conta Pelúcio. "Tínhamos também o desejo de falar das agruras e alegrias de uma trupe teatral que atua fora do eixo Rio-São Paulo. Juntamos a duas coisas." Como evidentemente os atores tinham vasta experiência no assunto - no que diz respeito às agruras de uma trupe mambembe, claro -, foram criando cenas a partir de improvisações, sempre com o humor peculiar ao grupo. Mais tarde, chamaram o dramaturgo Luis Alberto Abreu para escrever o texto final. Tanto a montagem da peça quanto a temporada paulistana contam com o patrocínio da Petrobras e da Telemig Celular, parceiras do grupo também numa série de atividades artísticas desenvolvidas no Cine Horto, sede da companhia em Belo Horizonte. Um Trem Chamado Desejo - Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 15,00 e R$ 20,00 (sábado). Sesc Consolação (Rua Doutor Vila Nova, 245); tel. 234-3000. Até 2/9. Amanhã, somente para convidados, sexta-feira para público

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