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Um time de feras por trás da Bela

Uma equipe de 150 profissionais trabalha nos bastidores do espetáculo mais caro já produzido no Brasil, cuidando de 32 complicadas mudanças de cenário

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais do que os 40 atores-cantores-bailarinos e 20 músicos que vão estar no palco na montagem de A Bela e a Fera - que estréia nesta quarta-feira (para convidados), às 21h, no Teatro Abril -, quem tem de estar afinada é a equipe de 150 pessoas que trabalha nos bastidores. São essas pessoas que coordenam as 32 mudanças de cena manipuladas por meio de 17 motores, além de distribuir e ajudar na troca de um figurino com quase 700 itens, entre perucas, sapatos, vestidos e outros tantos penduricalhos. Com tanta parafernália (o espetáculo, o mais caro já encenado no Brasil, custou R$ 8 milhões), qualquer erro nessa coreografia de bastidores pode colocar o elenco em risco. Durante os primeiros ensaios, vários tropeços foram registrados, quase todos por culpa dos figurinos - que, de tão cheios de detalhes, pesam nos ombros dos atores. Jonathas Joba, o Ding Dong (o relógio-mordomo de Fera), teve problemas. "Minha roupa pesa uns 10 quilos. Na primeira vez que a usei, estava cantando e tive de subir a escada. É claro que tropecei. E quase levei abaixo toda a ala oeste do castelo comigo", ri o ator. Saulo Vasconcelos, a Fera, é quem mais sofre: com apenas os olhos descobertos, ele tem de suportar 20 quilos de capas e pêlos no corpo. "Em um dos primeiros ensaios em que coloquei todo o figurino, quase desmaiei em uma das árias. Tivemos de interromper o espetáculo durante alguns minutos." Se um caso de emergência como esse acontecer, o responsável pela automação aciona um botão, interrompendo toda a engrenagem que faz camas, mesas e castelos andarem. Para evitar apuros, toda equipe segue em ensaios exaustivos há quase três meses. Só de ensaios geral (com figurino e cenário, como se fosse um espetáculo para valer), já foram realizados quase 20. "A Disney possui um cronograma bastante detalhado e rígido, uma forma inédita no modo de produção no Brasil", diz Jorge Takla, diretor da Divisão de Teatro da CIE (Corporação Interamericana de Entretenimento). Mas, dentro do rígido padrão Disney, também há muito a esconder. A reportagem conseguiu entrar nos bastidores do espetáculo e assistir à primeira meia hora de preparação dos atores. Depois disso, só a equipe do espetáculo pôde ter acesso. O contrato é tão rígido que os produtores podem ser punidos, com multa pesada (cujo valor não é divulgado), se qualquer truque for revelado. "Acredito que tantas restrições servem para manter a magia do espetáculo. Se o público souber como funciona cada truque, perde a graça", diz Tânia Nardini, diretora residente. Ela é a responsável pela continuidade do trabalho de Robert Jess Roth, o diretor "oficial", que esteve no Brasil há duas semanas para orientar a produção brasileira. "O maior desafio da montagem é manter o ritmo. Por ser uma comédia, os atores tendem a deixar tudo mais lento. Evitamos isso por meio de uma marcação bastante rígida e anotações", explica Tânia. Elisa Conforto, camareira da atriz Kiara Sasso, que faz a Bela, dá um exemplo. "O primeiro ensaio geral foi bem confuso. Lembro que atrasei. Em uma troca, com um vestido bem pesado, Kiara tem que entrar em cena quando Lumière (interpretado por Marcos Tumura) diz "flores e bombons". Mas atrasamos cinco segundos", diz, meio envergonhada. Cinco segundos podem parecer nada. "De fato, mas prejudica o andamento de todo o espetáculo", responde a camareira. Antes e durante o espetáculo, Elisa e os colegas circulam pelos dois andares dos bastidores do Teatro Abril. No subsolo, em uma área com aproximadamente 500 m2, estão os camarins. Em outras áreas funcionam a salas das perucas, de figurino, uma tinturaria, a sala de som, além de sete camarins. Os atores que interpretam a Bela e a Fera (Saulo Vasconcelos) ganharam salas exclusivas. Nesse local, camareiros, figurinistas, produtores, atores, coro, entre outros, circulam (por incrível que pareça) calmamente. Para evitar o corre-corre, todos precisam chegar três horas antes da abertura das cortinas. No andar de cima, funciona a coxia onde se postam 22 camareiras ao lado dos maquinistas. Quem assiste ao espetáculo nesse lugar privilegiado descobre alguns "segredos", como a transformação da Fera em príncipe em questão de segundos. Por isso, a coxia é mais restrita do que a ala oeste do castelo da Fera.

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