
21 de dezembro de 2010 | 00h00
Lançada dia 14 pela Biscoito Fino, em parceria com a produtora Dell"Arte, e presentão de Natal para quem tem amor pela música, a caixa Acervo Russo traz, em quatro CDs, registros do fim dos anos 40 ao início dos 90, conduzidos por grandes regentes, como Evgeny Mravinsky, Viktor Tretyakov, Yuri Nikolayevsky e Gennady Rozhdestvensky.
Executado ao vivo pelas Filarmônicas de Leningrado (hoje São Petersburgo e a mais antiga orquestra russa em atividade) e de Moscou, entre outros grupos, o repertório tem obras bem conhecidas, como os balés Petrushka (gravado em 1946), O Beijo da Fada (em 60) e Pássaro de Fogo (em 66), e outras sem notoriedade mesmo entre músicos, como Apollo (61) Introitus (74) e Orpheus (83).
Tudo havia sido gravado nos estúdios da rádio estatal Gostelradio, em Moscou, e permanecia em discos de acetato e fitas de poliéster, nos acervos do antigo Estado comunista. Por sua expertise no resgate de materiais danificados pelo tempo, a empresa brasileira Visom Digital foi chamada há cinco anos a recuperá-los, para lançamentos voltados exclusivamente à distribuição para o mercado europeu. Mais de 200 CDs saíram desse trabalho. O presidente, Carlos Andrade, pensou: e por que não levar esse patrimônio também ao Brasil?
Foram mais de 400 mil horas, com suas distorções e chiados, desveladas nos abarrotados acervos, que até hoje não foram explorados como merecem. O primeiro passo foi dado por engenheiros russos, que verteram as matrizes originais para o formato digital.
Eventuais lapsos foram corrigidos graças ao uso de inteligência artificial - ou seja, é a mais alta tecnologia a serviço do melhor da música. No Brasil, o material foi copiado e avaliado pela Biscoito Fino e a Dell"Arte - para o deleite de sua presidente, a pianista e professora Myrian Dauelsberg. Filha da violinista Mariuccia Iacovino e do pianista Arnaldo Estrella, que frequentaram a União Soviética desde a década de 40, educada em Paris com acesso ao melhor da música russa, essa ex-diretora da Sala Cecília Meirelles (entre 1974-1979), já aterrissou na terra gelada de Stravinski 32 vezes.
"Ia sempre para convidar artistas a se apresentar aqui. Tenho orgulho de dizer isso. Era muito difícil: aqui, por causa da ditadura militar, e lá, pelo fato de você não poder dar um passo sem um intérprete te vigiando", relembra Myrian, responsável, há décadas, pela vinda de estrelas da música clássica e da dança ao Brasil, e admiradora especialmente das inovações de linguagem deixadas pelo autor d"A Sagração da Primavera, de sua originalidade e diversidade estilística.
"O lançamento provocou euforia no meio musical e entre estudantes e professores. São preciosidades que praticamente ninguém conhece, como os Movimentos para Piano e Orquestra (com solo do ucraniano Sviatoslav Richter, considerado um dos maiores pianistas clássicos de todos os tempos), e o Prelúdio para Jazz Band", ela contou.
É apenas a primeira das caixas planejadas pela gravadora e pela produtora. Outras gravações, de figuras igualmente icônicas, como Mstislav Rostropovich e Evgeny Kissin, sairão à medida que os guardados no acervo russo forem sendo conhecidos. A próxima, em 2011, será focada em performances inéditas de Richter, xodó de Myrian.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.