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Um mito quase milenar e sua variante política

Por Crítica: Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

BOMRobin Hood, o "bom ladrão", é um mito. E, como mito, comporta variações. Daí a inutilidade de cobrar veracidade histórica às suas inúmeras versões. Para ser verossimilhante, o mito tem apenas de ser crível. E assim é com a interpretação de Ridley Scott, que escolhe um recorte original, mostrando o personagem antes de se tornar Robin Hood, isto é, antes de todas essas aventuras que povoaram nossa infância em livros, seriados e filmes. Robin é um personagem universal, comum a nós todos. É, mesmo que pairem dúvidas sobre sua existência real, um signo - o do "bandido social", segundo definição do historiador Eric Hobsbawm, categoria que abrange de Lampião a Salvatore Giuliano. O filme abre com uma espécie de petição de princípio: numa época de injustiça, as leis têm de ser transgredidas para que nova lei, mais justa, possa surgir. Sobre esse tema, vemos Robin lutar nas Cruzadas, testemunhar a morte do rei Ricardo Coração de Leão e voltar a um reino marcado pelo desgoverno: final do século 12, com o país vivendo à beira do caos, fome e impostos extorsivos. Com a morte de Ricardo, assume John, cobiçoso e despreparado. Ele e Robin serão oponentes. Nesse ambiente histórico, vemos nascer um Robin (Russell Crowe) heroico porém humano. Político e sereno, não se mostra, porém, indiferente aos encantos de Marian (Cate Blanchett), o que se compreende. Scott filma muitas batalhas e duelos. Imprime um visual denso, envolvente. Mas não perde de vista a linha histórica adotada. O seu Robin Hood é um agente social, que visa a moderação do poder real, então dito de direito divino. É um preâmbulo ao que de fato aconteceria na Inglaterra, como fato notável para a humanidade: a assinatura da Magna Carta em 1215. Através dela, o poder real deixa de ser absoluto.

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