Um iniciante Perry Salles volta à cena

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Por Agencia Estado
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O centenário de morte de Oscar Wilde é motivo de mais uma montagem no Rio. A partir de hoje, no teatro Sesi, a peça ...Com Amor, Oscar Wilde, escrita por Mauriciom Souza Lima, que vive Wilde no palco, realiza uma façanha: trazer de volta aos palcos Perry Salles. O ator viveu seus últimos anos em reclusão num teatro que comprou em Salvador. Hoje, fala com orgulho do seu Teatro Gambôa, mas seus anos em Salvador não trazem somente boas lembranças. ...Com Amor, Oscar Wilde é uma leitura dos fatos que levaram Oscar Wilde à morte, após ser execrado publicamente por sua relação com jovens ingleses. Chantagens, julgamentos e pressões do Marquês de Queensberry formam o caldo que leva Wilde a perder tudo, e no fim a própria vida. O Marquês, seu grande algoz, é o papel vivido por Perry Salles, que, entusiasmado com seu retorno à ribalta, define o personagem: "se Oscar Wilde é Deus, Queensberry é o diabo encarnado". O filho do Marquês de Queensberry, Alfred, foi um dos casos de Oscar Wilde, justamente o que lhe levou aos tribunais. Perry, ao contrário, só aparenta bons sentimentos, além de uma interpretação competente do papel do funesto lord inglês. Fala com empolgação sobre seus planos irrealizados para os 500 anos do Brasil, segundo ele comemorados com dois anos de atraso, sobre seu teatro na capital baiana e sua descoberta do computador. "Viva a tecnologia, viva o computador, meu grande parceiro de trabalho", diz um animado Perry Salles, quase gritando horas antes da apresentação de ontem para convidados. A vida no Teatro Gambôa não estava muito bem. Perry já estava há 40 dias na câmara de baixo do palco, deprimido e tentando descobrir as causa de o governo baiano não ter lhe dado apoio para refazer a chegada dos portugueses nas ruas de Salvador. "Eu planejara 370 naus entrando pela Baía de Todos os Santos, sem avisar a população", conta Perry. "Os atores que fariam os portugueses integrariam a cena urbana da cidade se hospedando nas casas dos cidadãos e cada dia representaria um ciclo econômico da história do Brasil", ele lembra, "e no fim... um transatlântico com os 2 mil e 500 personagens da História do Brasil chegaria na Baía de surpresa". Perry se frustrou quando ouviu um não das autoridades da Bahia, mas se indignou mesmo com sua recusa em aceitar a descoberta que havia feito: "provei que o Brasil já tinha sido descoberto por Duarte Pacheco dois anos antes da vinda de Cabral, que veio depois guiado por Duarte", diz Perry, que suspira ao lembrar que lhe apontaram o caminho da porta ao revelar sua pesquisa. Esta foi a causa de um retiro de 40 dias no Gambôa, sua casa desde 1994, em que Perry entrou em processo de definhamento: "não tomava nem banho, de tão deprimido, e minha ração mensal se constituía de quatro pacotes de macarrão e dois quilos de carne moída". Foi quando Ivone Hoffmann, diretora de ...Com Amor, Oscar Wilde, lhe falou da peça. Daí à sua descoberta do mundo moderno foi um pulo. "Através desse grande companheiro de trabalho que é o computador pude receber a peça inteira em trinta minutos, por e-mail, e viva o e-mail", exclama. O texto de ...Com Amor, Oscar Wilde sacudiu a poeira da vida de Perry Salles. Ele foi sondado por Mariciom Lima quase por acaso. O autor estava com dificuldades para encontrar o ator certo para o papel de Queensberry, até que sua amiga Vera Fischer, ex-mulher de Perry, lembrou de seu nome. A integração foi perfeita, como Perry faz questão de anunciar ao fim da encenação. "Estou recomeçando através do Mauriciom, por isso eles estão me tratando como se fosse um iniciante", ele diz, sem transparecer qualquer reclamação. Mauriciom Souza Lima levou ...Com Amor, Oscar Wilde primeiro a Curitiba, com dinheiro próprio, esforço que Perry louva sem parar: "é de malucos assim que precisamos". Um time de primeira linha é o que Perry encontrou para trabalhar na sua reestréia no teatro. Ivone Hoffmann e Mauriciom Souza Lima assinam, respectivamente, a direção e o texto. Regina Malheiros, histórica produtora de teatro, fez a direção de produção. Rosa Magalhães, a carnavalesca bi-campeã do carnaval carioca pela escola Imperatriz Leopoldinense, é a responsável pelos cenários e figurinos. Tudo isso contribuiu para um feliz desfecho da produtiva reclusão de Perry Salles. ...Com Amor, Oscar Wilde - Teatro Sesi. Rua Graça Aranha, nº 1, Centro. Tel: (21) 563-4163. Quintas, sextas e domingos às 19h30, sábados às 20h30. Preços: quintas e sextas R$ 15,00 e sábados e domingos R$ 20,00

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