Um fascinante exorcista das imagens

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Sempre é tentador fazer paralelos entre obra e vida de um artista. Em especial, quando se trata de alguém como Roman Polanski, cuja existência parece desconhecer águas calmas. Assim, basta assistir a seus dois longas de início de carreira, Faca n"Água (1962) e Repulsa ao Sexo (1965), para se convencer de que ali estava um artista disposto a explorar o seu meio de expressão da maneira a mais radical possível. Há quem os considere, não sem alguma razão, os melhores de sua carreira. Viria muito mais no futuro. Bebê de Rosemary (1968) passa por um dos mais completos - e assustadores - filmes de todos os tempos. E, como não se envolver com aquela história da garota (Mia Farrow) ofertada pelo próprio marido (John Cassavetes) para gerar o filho do Mal? Tocado ele próprio pelo mal, com o assassinato de sua mulher Sharon Tate, grávida, por um bando de malucos, Polanski representa (ou tentou fazê-lo) a tragédia em sanguinolenta leitura de Macbeth (1971), sinistra peça de Shakespeare. Em 1974, Polanski ressuscita o noir em seu brilhante Chinatown, drama dos mais envolventes, com Faye Dunaway, Jack Nicholson, e o próprio diretor em pequeno papel. O terror psicológico, como ator e cineasta, viria a reencontrá-lo em O Inquilino (1976), contracenando com Isabelle Adjani. Estudo sobre o medo, não sobre o medo ornamental, divertido, mas sobre o real pânico psicológico. Polanski também dirigiu alguns filmes menos bem-sucedidos, como Lua de Fel (1993), baseado na obra de Pascal Bruckner, ou O Último Portal (1999), um tanto obscuro e pouco convincente. Mas reencontrou-se, com brilho, em O Pianista, memória dolorida dos campos de concentração e do gueto de Varsóvia, com um Adrien Brody notável no papel-título. Deve vir mais por aí, com o inédito Deus da Carnificina, que será exibido no Festival de Veneza. Pode-se esperar o melhor desse fascinante exorcista de imagens.

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