Um escritor proibido de mostrar a cara

O inglês Andy McNab veio para a Bienal do Livro, mas não pode ser fotografado, por exigência do governo britânico: ele foi agente secreto

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Por Agencia Estado
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Andy McNab é um sujeito corpulento, sorridente, com o cabelo cuidadosamente penteado ao estilo George Clooney e um bronzeado vistoso para quem vive em uma cidade chuvosa como Londres. Uma descrição mais exata seria possível com uma fotografia, mas McNab não permite a divulgação de sua imagem - no máximo, à meia-luz, com o rosto coberto ou, então, de costas. Ele apressa em desfazer qualquer idéia de capricho: ex-agente do SAS, o serviço secreto da inteligência britânica, McNab é obrigado pela legislação de seu país a ocultar sua identidade. Até mesmo o nome com que se apresenta é um pseudônimo. "Isso incomoda um pouco, mas já estou me acostumando", diz ele, que veio a São Paulo participar do lançamento de Controle Remoto (Geração Editorial), livro de espionagem em que utilizou a própria experiência para construir a ficção. Os momentos vividos por McNab, aliás, soam como irreais, mas compõem um delicioso enredo de aventuras. Bebê, foi deixado dentro de uma sacola em frente a um hospital londrino. Adolescente, foi preso por roubar eletrodomésticos. Foi salvo do crime pelo Exército, que recrutou voluntários no presídio. "Não só me livrei da vida bandida como ganhei uma educação, pois, para ficar no Exército, era obrigado a ler", relembra. Em pouco tempo, conseguiu atingir o serviço secreto, órgão que o capacitou para missões especiais em diversas partes do mundo, como Irlanda, Colômbia e diversos países do Oriente, inclusive na Guerra do Golfo. Nesse conflito, sua missão era destruir os mísseis Scud em território inimigo. A situação estava sob controle, quando McNab e outros três oficiais foram capturados. O cativeiro não foi nada agradável: torturado, ele teve os dentes do fundo esmigalhados pelo cabo de um rifle, alguns dedos inutilizados além de submetido a queimaduras com pontas de cigarro e colheres quentes. O sofrimento, porém, não foi capaz de azedar seu humor: "Hoje, só lamento não ter mais força nos dedos para puxar o anel das latinhas de refrigerante", diverte-se McNab, que dividiu uma tarde de autógrafos na bienal com o escritor Marçal Aquino, autor de O Invasor. "Ele é uma figura", comentou Aquino. As experiências inspiraram seu primeiro livro, Bravo Dois Zero, que conta a história da Guerra do Golfo e logo será lançado pela Geração. A estréia na ficção veio com Controle Remoto, que, apesar de apresentar uma série de macetes da espionagem, jamais revela detalhes. "Há um trecho em que uma garotinha monta um explosivo a partir de sabão em pó", conta McNab. "Isso é possível, mas não conto todos os passos." Ele também faz mistério sobre ter participado de alguma missão no Brasil. Atualmente, além de viajar pelo mundo divulgando sua obra, McNab trabalha em Hollywood como consultor de filmes de ação. Seus livros, aliás, serão filmados pela Miramax. E ele se diverte com a visão farsesca criada pelo cinema. "Não há personagem mais divertido que James Bond", afirma.

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